Eu andava por aí, apenas mais um na multidão
Tentando me proteger da chuva
Quando vi um rei mendigo, com sua coroa de isopor
E imaginei se um dia terminaria assim também.
Há um homem na esquina cantando velhas canções sobre mudanças
Todos têm sua cruz para carregar nos dias de hoje.
Ela veio procurando por abrigo, com sua mala cheia de sonhos
Veio para um quarto de motel na avenida
Acho que ela estava tentando ser James Dean
Ela conheceu todos os discípulos, e todos os imitadores
Ninguém quer ser si mesmo nos dias de hoje.
E, ainda assim, não há nada em que se agarrar hoje em dia.
Hoje em dia, as estrelas parecem fora de alcance
Hoje em dia, não há uma escada sequer nas ruas
Os dias de hoje passam rápido, e nada dura nesta época perdida
Não restou ninguém a não ser nós, nos dias de hoje.
Jimmy Shoes quebrou suas duas pernas tentando aprender a voar
De uma janela do segundo andar ele simplesmente saltou, de olhos fechados
Sua mãe o chamou de louco, e ele disse “Mãe, eu tenho que tentar”
“Você não sabe que todos os meus heróis morreram?
E acho que eu preferiria morrer a ser esquecido.”
Hoje em dia, as estrelas não estão fora de alcance
Mas, hoje em dia, não há uma escada sequer nas ruas
Os dias de hoje passam rápido, e nada dura nesta época perdida
Até mesmo a inocência se foi no trem da meia-noite
E não restou ninguém a não ser nós, nos dias de hoje.
Eu sei que Roma ainda arde em chamas
Mesmo que os tempos tenham mudado
Este mundo continua girando, e girando, e girando
Nos dias de hoje.
Hoje em dia, as estrelas não estão fora de alcance
Mas, hoje em dia, não há uma escada sequer nas ruas
Os dias de hoje passam rápido, o amor não perdura nesta época perdida
Até mesmo a inocência se foi no trem da meia-noite
Hoje em dia, as estrelas não estão fora de alcance
Mas, hoje em dia, não há uma escada sequer nas ruas
Os dias de hoje passam rápido, nada dura, não há tempo a perder
E não sobrou ninguém para levar a culpa
E não restou ninguém a não ser nós, nos dias de hoje.
Hoje temos um Raio X especial e diferente. Especial porque é o primeiro texto do blog que não foi escrito por mim (Vinícius), mas pelo meu grande amigo Daniel Santa Cruz. Também é um texto diferente porque trata de uma banda que não tem muita ligação com o metal, apesar de ter muita ligação com bandas de Hard Rock americano dos anos 80. Acredito que muitos que acompanham o blog não o acompanham apenas por que trata de heavy metal, mas porque gostam de textos que fazem refletir, e Bon Jovi é cheio de músicas inteligentes. Eu sou muito fã da banda e gostei muito do texto, espero que vocês também gostem, fiquem com a análise tensa e sóbria de Daniel.
O ano era 1995. Depois de uma época considerada por muitos a “década perdida” (os anos 1980), o mundo experimentava os primeiros anos de uma geopolítica estadunidense oficialmente hegemônica, após quatro décadas de Guerra Fria. Alguns anos após a queda do Muro de Berlim, parecia haver um vazio de objetivos a atingir.
E esse contexto parece ter inspirado These Days, o disco mais soturno do Bon Jovi. A banda sempre teve em suas canções um forte componente sentimental até Keep The Faith, que em 1992 marcou uma transição para letras mais políticas, culminando no álbum significativamente negativista que o sucedeu em 95.
These Days, faixa-título do álbum, expressa muito bem essa mudança da temática de sexo, drogas e rock and roll, característica do hard rock dos anos 70 e 80, para uma visão mais crítica da sociedade.
Não há nem muito que analisar, é tudo quase literal. As pessoas, nos dias de hoje, ainda buscam seus heróis mortos de outrora, sem nada que possa sustentar seus sonhos. O homem tem as estrelas a seu alcance, mas não consegue tocá-las, pois só quem restou fomos nós, pessoas comuns. E mesmo a inocência, enfim, pegou o último trem e foi-se embora.
Não temos personalidade própria, e nossos ideais ainda são resquícios do passado.
Pesado, não? Pois é. Essa letra me atrai pelo fato de – além de ser uma mudança radical na banda que anos antes gravara “I’ll Be There for You”, clássico dos corações partidos – ser extremamente atual.
Quem são nossos grandes ídolos hoje? Olhando para a música, os únicos que poderiam ostentar tal título ou estão mortos, ou estão bem velhos. Quais são os grandes ideais, numa época de mentes que se tornam mais volúveis e superficiais à medida que ficam mais tolerantes?
Gilles Lipovetsky* e Zygmunt Bauman** são dois caras muito interessantes que exploram essa característica acelerada, contraditória e insegura do mundo atual, ou hipermoderno – como diria Lipovetsky.
Segundo eles, as relações humanas hoje são pautadas pela superficialidade, pois são fundamentadas na rapidez e na volatilidade do mundo atual. As ideologias e convicções deram lugar a fragmentos de pensamento, trocados e modificados a cada instante como peças de roupa. Estamos conectados a cada vez mais pessoas, mas nossos laços são cada vez mais frágeis, convenientes e instáveis. E, segundo Bauman, o consumo acaba por preencher o espaço vazio antes ocupado por relações interpessoais mais profundas.
É, sem dúvida, uma análise pessimista da vida. E, em muitos pontos, concordo com ela.
Mesmo assim, acho que a ausência de certezas e a mudança de paradigmas que vivemos hoje podem ser benéficas. Não é à toa que os últimos regimes autoritários estão ruindo – interesses geopolíticos e econômicos à parte. As pessoas lentamente passam a aceitar as diferenças, e isso é bom, mesmo que signifique às vezes a perda de uma posição firme.
Mesmo sendo pessimista na maioria das vezes, insisto em crer que a humanidade tem salvação. E acredito que a salvação esteja na consciência de que estamos todos fodidos, nesta barca furada que chamamos de Terra, esta geoide maltratada que continua girando mesmo com todo o prejuízo que causamos a ela.
Lentamente, começamos a nos preocupar com o meio ambiente, com a miséria e com a escravidão moderna – ainda que para aplacar nossas consciências pesadas.
A passos de formiga, vamos aprendendo que somos todos seres humanos, e que nossa sobrevivência neste “milagre probabilístico” (gostaria de ter pensado nessa definição brilhante antes de meu grande amigo Vinícius) depende de uma mudança que deve começar agora, ainda que já seja meio tarde.
E você, concorda comigo?
*Gilles Lipovetsky é um filósofo francês. Recomendo: “Os Tempos Hipermodernos”.
** Zygmunt Bauman é um sociólogo polonês. Recomendo: “Modernidade Líquida”.
Essa música significa muito pra mim porque foi a segunda música que eu realmente gostei na minha vida, devia ter uns 7 anos.
ResponderExcluirEu acho que essa questão da falta de perspectiva é cíclica, não acho que a gente esteja caminhando no tempo, mas sempre dando voltas, é isso que me faz acreditar que o futuro vai ser diferente, mas, provavelmente, não vai ser o que a gente espera, nem o que gostaríamos.
Aliás, eu lembro de 8 anos atrás o Sr. Daniel e companhia me tirando pq eu ouço Bon Jovi, realmente o futuro sempre surpreende!
Hahaha talvez eu tenha te zuado mesmo, apesar de não me lembrar disso.
ResponderExcluirMas, felizmente, são preconceitos que já foram deixados de lado.
Se as pessoas pararem pra analisar, o Bon Jovi vai muito além das baladinhas românticas.
Quando o Daniel vai montar o próprio blog pra desbancar o Frejat? rsrs
ResponderExcluirParabéns Daniel, ÓTIMA análise.
Queria eu também saber analisar as coisas dessa forma, mas sou um mero expectador da geopolítica e da sociedade. Apenas absorvo as informações... Embreve serei capaz de fazer algo tamanho =]
Realmente música pessimista e fatídica. Sempre me pego conversamos com meus amigos sobre música e caímos na discussão de quem hoje em dia é eterno. Nossos heróis morreram. E eu como seguidor que sou estou perdido.
É difícil seguir a mim mesmo. Preciso aprender que não saber qual caminho seguir não significa estar perdido...
Bem, seguem algumas reflexões que me vieram a memória lendo o post do Dani...
ResponderExcluir"Não há dúvida de que este hábito de louvar e criticar, a que me referi, existe realmente; mas não é verdade que sempre nos engane. Há ocasiões em que devemos guiar-nos pela evidência; porque, como as coisas deste mundo estão sempre em transição, ora as exaltamos, ora as rebaixamos". - Maquiavel
"Os homens fazem sua própria história, mas não a fazem como querem". Karl Marx
“Each one found in the Ancients what he desired
or needed, mainly himself.” - Friedrich Schlegel
O diálogo com o passado pode ser algo muito significativo quando sente-se a necessidade de mudanças...
Ps: Também gosto muito dessa música!
Como não comentar? Risos.
ResponderExcluirEm primeiro lugar venho falar de Bon Jovi. Como o próprio Vinicius salientou, Bon Jovi tem sim suas baladas melodramáticas e suas musicas muita pegajosas, mas possui questionamentos críticos enredados em suas letras e por isso deve ser considerado. Existe um certo pré-conceito sobre Bon Jovi, até entre aqueles que gostam, contudo, ele sempre vai além e surpreende ano a ano, essa é minha opinião.
Então vamos ao segundo ponto. A discussão que a música prega. Eu concordo muito com esse aspecto de “vida superficial” que vivemos hoje, além do escravismo moderno – “Slave to the Grind”. Contudo, não me apoio nesse conceito de que nossos heróis morreram, afinal, esses vem e vão e a história está aqui para contar, boa parte deles que são exaltados nem heróis foram. Alias, duvido que de fato tenha havido um! Para mim a raça humana é um experimento mal feito e perdido, mas que continua funcionando e vem sendo assim século a século. O passado não é melhor nem pior, simplesmente é passado.
Claro que isso é um ideal pessimista e não dá pra viver pensando assim. Então, apesar de tudo, eu me forço a acreditar que o ser humano tem jeito, “salvação”. Mas como o próprio Daniel falou, anda a passos de formiga em um trajeto tão grande quanto o Tour de France e a corrida... Começou agora.
OS: Muito bom o texto, parabéns. Como é meu primeiro comentário também tenho que comentar do blog, parabéns Frejat tá mandando muito! Your time Will come... #MetalQuotes