quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Raio X: Face the Emptiness - A história acabou antes mesmo de começar


 

A história acabou
Está finalizada, acabada
O sonho que você teve
Desapareceu na neblina

Parado na frente
Das ruinas do que você construiu
Chocado até os ossos
E esmagado

Quando gigantes caem e anjos choram
Você sabe – É difícil salvar o dia

A última palavra já está dita e feita
A história acaba onde ela começa
Você tem que encarar o vazio
Não tem como argumentar
Não tem como modificar
Você sabe
É aí que a chuva cai

Não há dúvida que você está acabado
A história termina sem nem começar
Venha e encare o vazio
Não há como se esconder
Você não pode correr, tem de ficar
Parado e assistir
A chuva caindo

Quanto mais alto você coloca seus objetivos
Mais fundo você pode cair
Algumas vezes a vida
Simplesmente não é Justa

Você é um guerreiro incansável
Você se levanta quando cai
Mesmos se você
Não conseguir entender ainda

A última palavra já está dita e feita
A história acaba onde ela começa
Você tem que encarar o vazio
Não tem como argumentar
Não tem como modificar
Você sabe
É aí que a chuva cai

Não há dúvida que você está acabado
A história termina sem nem começar
Venha e encare o vazio
Não há como se esconder
Você não pode correr, tem de ficar
Parado e assistir
A chuva caindo



Já vou me desculpando antecipadamente pela letra depressiva, mas considero que a mensagem passada na "Face the Emptiness" do Primal Fear vale a pena ser ouvida. Esse tipo de mensagem mais pessimista (ou realista, como acredito) é raro no Power Metal, normalmente, em músicas mais reflexivas do estilo, ou as músicas fomentam um sentimento de revolta, ou tentam te mostrar um lado positivo de algum tipo de aflição.

Quando estava traduzindo esta música, pensei seriamente em usar a palavra “estória” no lugar de “histórica” já que no inglês há a diferenciação entre history (disciplina que estuda o passado) e story (conto), mas percebi que ele mistura esses dois conceitos durante a música, como na ótima frase repetida na série Battlestar Galactica: All this has happened before, and all of it will happen again (tudo isso já aconteceu antes e tudo isso vai acontecer de novo). A música é uma repetição da mesma ideia: “encare o vazio, a hi(e)stória acaba antes de começar”. Mas essa ideia não é tão simples e é muito carregada de significado.



A música já começa falando que a história acabou, que os sonhos se perderam, que as ruinas do seu passado te esmagam; a música não te deixa nem respirar e já vai jogando pessimismo em você. Mas, pare para pensar, você deve ter vários planos e sonhos para seu futuro, principalmente se você for jovem. Mesmo que você seja o tipo de pessoa que vive o presente intensamente e deixa para se preocupar com o futuro só no futuro, não há como não criar grandes expectativas para o dia de amanhã. Não importa em qual área da sua vida você deposite sua confiança, você acredita que algo de bom está reservado para você, que você merece. Mas, mesmo que todas essas coisas se realizem, elas nunca são como imaginávamos, mesmo que já esperássemos, os problemas que surgem decorrentes de um futuro de sucesso (não importa em que esfera da vida) nunca são 100% previstos. É como se a angústia que tentamos aliviar hoje fosse irremediável.

Se mesmo quando as coisas ocorrem da forma que esperávamos não consigamos nos livrar da angústia; quando elas não acontecem, ou pior, quando os nossos sonhos ocorrem do avesso, esse sentimento de angústia se apodera da nossa alma e começamos a procurar um sentido para essas dificuldades, uma explicação. Apesar de, eventualmente, essa angústia se transformar em patologias, com o tempo acabamos cometendo os mesmos erros e sofrendo as mesmas decepções.



Há um momento em que se percebe na música a linha de pensamento para sustentar toda essa amargura, é o trecho: “Quando gigantes caem e anjos choram / Você sabe – É difícil salvar o dia”. Sempre estamos tentando salvar o dia, nem que seja só o nosso; mas nos frustramos, afinal não somos gigantes, muito menos anjos. Mesmo que você decida se alienar dos problemas a sua volta, pelo menos os seus problemas acabam, eventualmente, te revoltando.

Uma vez eu passei por uma situação que exemplifica bem esse sentimento de revolta despropositada. Certa vez, enquanto eu navegava na internet, me deparei com a notícia que em represália a ataques terroristas, o governo israelense havia atacado a faixa de gaza e deixado 1300 mortos e mais de 5.000 feridos. Aquilo era inaceitável! Claramente um ato condenável. Pelas imagens reproduzidas na reportagem que eu lia, os alvos principais eram civis; que, aliás, já sofriam o suficiente por viver como refugiados dentro de sua própria terra. A sensação de que eu precisava fazer algo para mudar aquela situação me preencheu como nunca antes uma notícia sobre algo em outro país havia feito. E era importante que eu fizesse algo que realmente interferisse; mas, em poucos segundos, eu percebi que aquilo não me pertencia e que eu estava fadado a tentar conscientizar as pessoas próximas a mim dos horrores acontecidos naquela região.



O sentimento que veio quando eu caí na real, é parecido com o que a música te aconselha a encarar. Mesmo que haja uma consciência responsável pelos rumos que o universo toma, ninguém é capaz de compreendê-los. Você não pode deixar essa angústia de que algo está faltando escondida dentro de ilusões, pois assim você nunca aprenderá a lidar com ela. Os momentos de angústia têm que ser aproveitados, pois é quando você está realmente angustiado, que você tem coragem de refletir sobre as suas ações. Quando as coisas parecem dar certo, talvez você tenha a ilusão de que está seguindo um caminho seguro, ou que algo no universo está olhando por você e te protegendo da imperfeição da vida. Mas quando isso não se confirma, é difícil se reerguer e recomeçar depois de toda a decepção.

Uma técnica legal que os caras usaram na letra para te causar estranhamento é escrever a letra falando direto com o interlocutor, toda música passa a mensagem para “você”, enquanto normalmente em questões mais abrangentes e determinantes o normal é falar para “nós”. Aparentemente o objetivo é chamar para reflexão, e eu também tentei usar essa técnica nesse texto, espero que não tenha sido muita pretensão.

Se aprendermos (agora parei de falar só de você) a lidar com a angústia, a encarar o vazio de nossa alma, entender que ele é parte estrutural de nossa mente; talvez consigamos traçar caminhos mais inusitados para a nós, formas mais realistas de enfrentar as dificuldades. Mesmo nos momentos de euforia, aprender a evitar as ilusões, evitar esconder a angústia no nosso subconsciente, talvez nos prepare para quando tivermos que cair na real.


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