Atenção: Esta música contém descrições detalhadas de processos de tortura.
Auschwitz, a
verdadeira dor
O jeito que
eu quero que você morra
Morte lenta,
decadência imensa
Chuveiros
que lhe purificam a vida
Forçados
Como gado
vocês correm
Despojado do
valor de sua vida
Rato humano,
para o anjo da morte
Mais de quatrocentos
mil para morrer
Anjo da
morte
Monarca do
reino dos mortos
Sádico,
cirurgião da morte
Sadista do mais
nobre sangue
Destruindo,
sem piedade
Para
beneficiar a raça ariana
Cirurgia,
sem anestesia
Sinta a faca
te perfurando intensamente
Inferior,
sem utilidade para humanidade
Amarrado,
gritando loucamente para morrer
Anjo da
morte
Monarca do
reino dos mortos
Açougueiro
infame
Anjo da
morte
Bombeado com
fluido, dentro do cérebro
A pressão no
seu crânio começa a
Empurrar os
seus olhos
Carne
queimando, pingando
Testes
mentais queimam sua pele
Sua mente
começa a ferver
Frio frígido
quebra os seus membros
Quanto tempo
você consegue aguentar
Neste funeral
de água congelada?
Costurados
juntos, juntando cabeças
Apenas uma
questão de tempo
Até vocês serem
esquartejados
Milhões jazem
nas suas
Tumbas
lotadas
Jeitos
perversos de alcançar
O Holocausto
Mares de
sangue, vida enterrada.
Sinta o
cheiro de sua morte enquanto você queima
Lá no fundo,
dentro de você
Abacinar,
olhos que sangram
Rezando para
o fim
Do seu bem desperto
pesadelo
Asas de dor
buscam você
Sua face de
morte te encarando
Seu sangue
correndo frio
Injetando
células, olhos mortais
Se
alimentando dos gritos dos
Mutantes que
ele está criando
Vítimas patéticas
e inofensivas
Deixadas
para morrer
Desprezível anjo
da morte
Voando livre
Anjo da
morte
Monarca do
reino dos mortos
Açougueiro
infame
Anjo da
morte
"Angel of Death" do Slayer é uma das músicas mais controversas do heavy metal.
Acredito que quem ouve esta música e a encara como apologia ao nazismo, parou
de ler nos primeiros versos. Mas, mesmo assim, essa foi uma interpretação muito
comum na data de seu lançamento, isso ainda é agravado pelo interesse que Jeff
Hanneman (compositor da música) tem por medalhas nazistas.
O “Anjo da Morte” tratado na música é um médico nazista chamado Josef
Mengele que ministrava experiências com os prisioneiros de Auschwitz. A música
foca no sofrimento de suas experiências e traz um sentimento de angústia por
toda a letra. A forma como Hanneman descreve as torturas é desesperadora, trata
de coisas que nem passam por nossas cabeças quando pensamos em tortura. Quando
ele diz “costurados Juntos” (Sewn Together), talvez ele esteja se referindo a
experiência realizado com gêmeos, que tinham suas veias interligadas, algo que
só um nazista fanático, e um grande filho da puta, pensaria.
Uma das principais críticas à música é que ela não deixa claro que os
nazistas são maus, eu discordo totalmente. Quem lê essas palavras e não fica
imediatamente revoltado, deve ter algum tipo de sadismo perverso. Na própria
música ele fala que o tal do Mengele era um cara desprezível, infame e
perverso. A resposta de Hanneman, quando perguntado dessa omissão é bem clara:
“Nada do que eu pus na letra diz necessariamente que ele era um cara mau,
porque para mim, bem, não é óbvio? Eu não deveria ter que te dizer isso”.
O que talvez incomode um pouco quem não gosta da música é o seu clima
de documentário, a música é muito mais descritiva do que argumentativa. Talvez
um nazista sádico consiga gostar do que está escrito e se identificar com o tal
anjo da morte, mas no contesto de uma banda americana com integrantes de
diversas etnias, é muita ingenuidade rotular Angel of Death como apologia ao
nazismo.
Há quem acredite que, apesar de não fazer apologia, a música banaliza
o sofrimento causado pelas atrocidades dos campos de concentração e defende que
o tema não deva ser tratado de determinadas formas. Eu acho isso um terrível
engano, quanto mais ouvirmos falar sobre o Holocausto, mais tentaremos evitar
que ele se repita. Hoje há algumas pessoas -
como Ahmadinejad, presidente do Irã. – que acreditam que o Holocausto não aconteceu. Muitas pessoas não sabem da sua
gravidade e uma música como Angel of Death mostra que é algo que não pode se
repetir.
Na minha opinião, o que os nazistas fizeram com seus prisioneiros - tanto
judeus, como ciganos, russos e poloneses - em Auschwitz, é a demonstração que não
podemos vacilar em relação aos direitos humanos. Se olharmos para Alemanha do
século XIX, vemos um país com grandes filósofos e artistas, uma grande oposição
ao utilitarismo tão em voga na época, grandes pensadores, que valorizavam a
força dos indivíduos em relação ao todo. Esse mesmo país, devido ao turbulento
início do século XX, acabou mudando a ponto de se tornar irreconhecível na mão
dos nazistas, e o que no começo era, para o povo, um projeto de construção de
uma grande nação, acabou se transformando em um estado totalmente despótico.
Quando passamos por determinadas crises, muitas vezes é mais fácil
apontar um inimigo, qualquer que seja, ao invés de tratar o problema da forma
correta. As pessoas são manipuláveis e o ódio une muito mais que respeito. É
preciso sempre respeitar os indivíduos e seus direitos inalienáveis não importa
quem seja. Qualquer tipo de violação de direito pode sempre se voltar contra
você. Ter consciência dos erros do passado é muito mais frutífero do que fingir
que nunca aconteceu. Uma música como Angel of Death é claramente uma denuncia
do que o ser humano é capaz, e é extremamente importante que saibamos disso.