“De fato isso foi quase uma explosão (fallout) real
Tudo está
sob controle”
O narrador
disse com um sorriso sério
Atrás de sua
máscara
Ele sabia a
verdade
“Eu trarei
uma nova era de melhores caminhos”
O pregador
da TV disse
“Apenas
pague hoje
Pague hoje”
O mundo está
vestido de preto
No dia do
julgamento da terra
E eu?
Eu sei que
isto não pode continuar
Sinais
proibidos aumentam
Eu estou
sentado em casa
E observando
Nascido em
um aposento de lamentações
Nuvens pálidas
temeram
A criança
não nascida
Então ela
cresceu com planos crescentes
De suicídio
Nascido em
um aposento de lamentações
Sombras
deixam o medo dentro
Aquele Peter
Pan nunca irá alcançar
O outro lado
É
aterrorizante
Excitante
sentar em casa
E observar os
campos em chamas
Ser
hipnotizado pela cobra da TV
Obedeça,
trabalhe duro
E não sinta
raiva
Apenas
simpatia pela alta classe
Não há
chance de mudar as coisas
Porque eu
sou
Nascido em
um aposento de lamentações
Gritos
silenciosos ocorrem
Quando o
berço quebra
Sonhos
destruídos não foram ouvidos
No outro
lado
Nascido em
um aposento de lamentações
Sombras
deixam o medo
na criança
recém-nascida
Aquele Peter
Pan nunca irá alcançar
O outro lado
E eu sou
parte da máquina
Um fantoche
nas cordas
Um rebelde,
outrora
Agora eu sou
um homem velho
Eu sei que
isto não pode continuar
Mas o
fantasma chamado medo interior
Aleija minha
língua
Meus nervos,
minha mente
Queda eterna
Alguém corta
as cordas
Eu não
consigo me mexer
Para
recuperar a coragem
Eu tenho que
encarar a verdade
Mas não hoje
Adeus
Nascido em
um aposento de lamentações
Preso dentro
de uma teia chamada vida
O único
jeito de sair dela logo
É o suicídio
Nascido em
um aposento de lamentações
Almas
pálidas constroem um mundo gelado
Cérebros
infectados
Nunca alcançarão
o outro lado
O outro lado
O post de hoje vai falar da ótima “Born in a Mourning Hall” do Blind
Guardian! Se você gosta de músicas que não tenham apenas letras, mas sim
poemas, Blind Guardian é a banda para você. Eles são mestres na arte da
composição, eles elevam a arte de fazer heavy metal a outro patamar. Uma das
coisas mais impressionantes é que eles conseguem fazer quase todas as músicas
sem rimar e é muito difícil de perceber quando você ouve despreocupadamente. Além
disso, a grande maioria das músicas dos caras são interpretações de obras de
ficção, de momentos históricos ou de passagens mitológicas. O interessante é
que eles não recontam as obras em suas músicas, eles revivem os personagens.
Ouvir Blind Guardian cantando sobre um algo que você goste é uma experiência
ímpar.
Born in a Mourning Hall foge um pouco da regra, pois o personagem que
a banda nos apresenta está falando sobre a realidade atual (de 1996). Assim
como em Paradise e Livin’ on a Chain Gang, o eu lírico começa assistindo TV,
nesse caso a TV é o que motiva a reflexão sobre o mundo, principalmente pelo
que ela não diz. Temos duas críticas já na primeira estrofe, mas elas se
interligam. O jornalismo da TV tenta manter as pessoas em medo constante, no
caso relatado, o medo é em relação a um acidente radioativo (fallout). Já a
religião da TV se aproveita deste mesmo medo, para que você contribua
financeiramente.
É interessante essa ideia de medo constante. Apesar de vivermos em um
país violento, ninguém estranha termos vários programas que ficam “caçando”
desgraça pelas ruas durante a tarde? Será que não há nenhum outro tipo de
notícia para transmitir? Apesar de ser triste, não sei por que é tão importante
que saibamos de todos os delitos cometidos durante o dia. A melhor explicação
pra isso que eu já ouvi vem do documentário “Tiros em Columbine” de Michael
Moore: Enquanto as pessoas estiverem com medo, não arriscarão subverter o
status quo, enquanto não estiverem seguras em sair na rua, não vale a pena
tentar resolver problemas mais urgentes. Esse tipo de argumento é ainda mais
aprofundado no livro “1984” de George Orwell, onde o governo de “Oceania” está
em guerra constante contra seus inimigos, muito provavelmente apenas para
justificar todos os abusos de poder.
No decorrer da música somos apresentados a uma pessoa consciente das
contradições do sistema, mas que se vê impossibilitada de agir. Aparentemente,
o personagem descrito lutou contra tudo isso e falhou em seus objetivos. Mas
não foi uma derrota física, foi uma derrota mental. A própria experiência de
vida mostrou insistentemente que ele era muito insignificante perto da
magnitude da estrutura estabelecida. Creio que muitas pessoas se sentem assim
(eu sou uma delas): apesar de considerarem que o mundo poderia ser bem melhor,
não encontram nenhum tipo de opção que traga algum horizonte de melhora. É
claro que sempre podemos melhorar um pouco a vida das pessoas a nossa volta,
mas com o tempo as coisas voltam a ser como sempre foram. A impressão é que
nada nunca muda.
Porém, nos refrões, quem se comunica com o ouvinte é uma espécie de
narrador que, através de metáforas, explicam o porquê de toda essa imobilidade.
A impotência do personagem é muito mais interior do que exterior: Almas
pálidas constroem um mundo gelado / Cérebros infectados / Nunca alcançarão o
outro lado. O mundo em que vivemos é um pouco cruel nesse sentido.
Diferentemente de outras épocas, em que as coisas eram como eram porque
deveriam ser daquele jeito, qualquer um tem acesso fácil a diversos livros subversivos que vão do Manifesto Comunista até o Mein Kampf hoje em dia. Qualquer um que se
interesse tem acesso aos mais diversos tipos de visão de mundo, mas somos tão
condicionados a aceitar que o Estado e o sistema econômico são inatingíveis,
que não enxergamos nenhum horizonte de mudança real, pelo menos não para
melhor. É muito comum as pessoas não simpatizarem com seus governos e com o
mundo em geral, mas mesmo assim, seus cérebros infectados não conseguem dar o
primeiro passo em direção ao outro lado.
A mensagem que essa música passa é um pouco desanimadora, mas, apesar
disso, ela causa um incômodo benéfico na minha opinião. A única coisa que não
pode impedir-nos de fazer o que achamos certo é nós mesmos. Nunca saberemos se
é possível mudar se não tentarmos, deixar de acreditar em algo sem antes tentar
colocar em prática, pode ser um desperdício sem tamanho. Mesmo que acabemos
como um rebelde frustrado, pelo menos teremos consciência que tentamos.
Boa reflexão.
ResponderExcluir=**, Jowzinha
Poisé... Sou mais uma com as cordas cortadas... Mais uma presa na teia...
ResponderExcluirEnfim, sensacional o post e o blog como um todo. Parabéns ^^
Desde que descobri o blog sempre acompanho as postagens. Adoro sua forma de escrever, Vinícius. Comunica de uma forma expressiva; sofisticada mas ao mesmo tempo acessível ao leitor, interligando fundamentações e críticas. Admiro pessoas que têm esse talento.
Quem sabe um dia não chego a este patamar... Quem sabe...
Até mais ^^
Muito obrigado pelos elogios, são uma ótima motivação para levar o blog cada vez mais a sério!
ResponderExcluirSó as tietes aí hein!!! USAhuashuahauhasuas
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