quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Raio X: Livin' on a chain gang - A sociedade está sendo conduzida para o colapso



Ligo a TV porque não tenho para onde ir
Parece que tiveram um problema lá no México
Um garoto de 13 anos roubou uma loja pra ter o que comer
Eles o pegaram fazendo hora enquanto assassinos andam pelas ruas

Um político esfomeado é como um lobo a sua porta
Determinado em submissão e se alimentando dos pobres
Poderíamos ver o sol se nós abríssemos nossos olhos
Mas nós nos pintamos em um canto colorido com mentiras brancas

Estourado em uma pilha de pedra, se empoeirando no calor
Algemado ao sistema e arrastando os meus pés

Eu sou conduzido por um colapso
Outra submissão a extorsão branca
Sinto-me como se vivesse em uma gangue de cadeia
Eu sou conduzido por um colapso
Uma submissão suicida
Sinto-me como se vivesse em uma gangue de cadeia

A instituição de um picareta pode te livrar de seus pecados
Mande a sua contribuição e ele salvará a sua alma hoje
O que ele pode saber? Ele passou pelo inferno e voltou?
Ele pega a grana e a leva pra casa em seu Cadillac novo em folha

Cuspindo no cão de guarda, queimando em sua parte maligna
Gritando no trlho sem ninguém no volante

Eu sou conduzido por um colapso
Outra submissão a extorsão branca
Sinto-me como se vivesse em uma gangue de cadeia
Eu sou conduzido por um colapso
Uma submissão suicida
Sinto-me como se vivesse em uma gangue de cadeia

Cura pela fé, superstição
Mente criminosa de sangue frio
Gozando em alta posição
Ei irmão você pode arranjar uma moeda
Para me tirar dessa linha de assassinato?

Eu sou conduzido por um colapso
Outra submissão a extorsão branca
Sinto-me como se vivesse em uma gangue de cadeia
Eu sou conduzido por um colapso
Uma submissão suicida
Sinto-me como se vivesse em uma gangue de cadeia



Pela primeira vez analisarei uma música de Hard Rock por aqui. O Hard Rock dos anos 80 foi marcado pela sua extravagância e pela filosofia do "sexo, drogas e rock ‘n’ roll". Com forte marca comercial, as bandas americanas que dominaram a cena naquela década precisavam de certo nível de alienação. Mas no fim desta era, algumas bandas apareceram com forte marca contestadora, entre elas estava o Skid Row. Esses caras não eram de medir palavras e a "Livin’ on a Chain Gang" resume bem o espírito da banda.

É legal a simbologia, que também foi usada na “Paradise” do Stratovarius, na qual o narrador começa assistindo TV. Essa caixa mágica parece ser colocada como a nossa janela para realidade, o que realmente está acontecendo é o que passa dentro dela e não no mundo a nossa volta. Como a música fala do sentimento de prisão gerado pela sociedade, a própria relação que a TV tem com a gente já é uma das correntes que prendem nossos pés.

O exemplo do garoto que rouba comida e é prontamente preso, mas os verdadeiros bandidos estão soltos por aí, é clássica. A grande reflexão desse exemplo é: para quem serve a justiça? É impossível criar um consenso em relação às noções de justiça, mas é muito mais fácil policiar aqueles que não têm defesa, do que os  “assassinos” que agem por vias muito mais complexas. Estes assassinos citados na música, não me parecem ser os assassinos comuns que matam com uma arma ou algo do tipo. Esses assassinos devem ser aqueles que as suas decisões destroem a vida de muitos, tanto causando a morte de pessoas, quanto destruindo as perspectivas delas. Esses assassinos são os políticos, os empresários, os líderes religiosos etc. Essa justiça que só pune quem não tem influência é outra das correntes.



Quando a música começa a falar de política, a crítica vai direto para as pessoas que participam dela. A forma como funciona o sistema democrático contemporâneo acaba gerando políticos profissionais. Trazendo a reflexão para o Brasil, as coisas ficam ainda mais claras quando vemos que temos, em todo país, mais de um milhão de cargos de confiança na máquina estatal. Os partidos políticos começam a depender do poder para manter seus filiados em seus empregos. Não há mais espaço para visões políticas, o grande objetivo dos grandes partidos, na maior parte do mundo, é simplesmente chegar e se manter no poder.  É isso que explica a centralização ideológica dos partidos políticos nos sistemas democráticos atuais, quanto mais nichos políticos o programa do partido abarcar, mais votos ele conquistará. Isso acaba afastando da política as pessoas idealistas e atrai pessoas que querem simplesmente um emprego. Esse sistema em que somos governados por políticos especializados em manter as coisas como estão, é mais uma das correntes apresentadas pela música.

Após o refrão, a música ataca a relação deturpada que as pessoas têm com a fé hoje em dia. A religião sempre se misturou com o Estado, mas com as revoluções liberais que separaram as duas coisas, o paradigma religioso precisou ser reinventado. As grandes religiões se mantém pela tradição e pelos costumes, mas, mesmo perdendo o seu espaço, ainda exercem um poder de influencia considerável. Esse vazio religioso deixado pelo mundo laico, muitas vezes é aproveitado por bandidos que se abusam da boa vontade das pessoas e rouba o dinheiro delas. Em algumas religiões mais novas, normalmente cristãs, há uma relação de troca entre a doação e o milagre. É como se a quantidade de dinheiro doado pra igreja influenciasse na qualidade do milagre. Esses caras pegam as pessoas pelo inconsciente, a pessoa não acha que está “comprando” um milagre, mas acha que a melhor forma de comprovar a sua fé é se desprender do dinheiro por Deus e a melhor forma de comprovar isso é doando. Mas, como vivemos em uma sociedade que tudo é medido pelo dinheiro, o que atrai um grande número de pessoas para essas seitas, é a possibilidade de comprar o milagre como se estivesse em um mercado. Essa religiosidade atual que muitas vezes trata a fé pela ótica do mercado é mais uma corrente denunciada pela letra.



A metáfora da música fica clara: a sociedade está tão deturpada, que é como se estivéssemos sobre regime carcerário. O trecho “Poderíamos ver o sol se nós abríssemos nossos olhos / Mas nós nos pintamos em um canto colorido com mentiras brancas” é o resumo da mensagem da música. Nós criamos tantas regras e somos coniventes com tantas injustiças que nos perdemos em nossas próprias escolhas. Se as pessoas tivessem a consciência de tudo o que permeia as suas relações, talvez a vida pudesse se concretizar de forma plena. As correntes que prendem nossos pés estão muito bem presas, se não começarmos a serrá-las logo, nunca conseguiremos nos libertar.


2 comentários:

  1. Poxa, cara. Post muito bom. Escolha de uma boa banda e de uma música que além de enérgica tem uma boa letra. É hard rock, mas dá pra sentir uma pegada mais punk no jeito como o Skid Row fazia música. Quantos às questões, está tudo interligado. A Tv impulsiona em você vontades que nem sempre você é capaz de sustentar como também é meio de enganação do governo fazendo com que os veículos de mídia sejam tendeciosos pra o lado deles. Nunca você sabe o que um político tá aprontando de verdade, pois na tv você só vê ponto x ou y da questão. Em meio a isso tudo, as pessoas de menos esclarecimento se sentem fracas e encontram em seus caminhos pastores, padres ou seja lá o que prometendo a salvação a qualquer custo. E lá vai você se largar de tudo o que você tem acreditando ser possessão do demônio enquanto eles levam lá pra fora malas e malas de dinheiro, cobram o dízimo como um agiota cobra um dinheiro emprestado. Sinceramente, hoje é impossível acreditar em tv, políticos e religião. Todos estão interligados.

    Obrigado pela visita ao blog ontem. Continue aparecendo, pois muitas novidades irão surgir.

    =**, Jowzinha

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  2. Muito bom. Dentro da analogia da TV, onde o que passa na TV é a realidade e não o que acontece a volta. Note que nas grandes igrejas, independente do nome ou da crendice, a "TV" é a própria IGREJA, onde a realidade é apenas o que acontece ali. Muito "fieis" se desfazem do pouco que tem doando para igreja, sonhando que está garantindo seu lugar junto de DEUS e fecha os olhos para quem realmente precisa. Sempre digo se vc quer praticar desapego, pratique com quem passa alguma necessidade e não com a Igreja.

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