sábado, 29 de outubro de 2011

Review: Blind Ride - Uma banda que não veio ao mundo a passeio


O ano de 2011 vem sendo um bom ano para o heavy metal aqui no Brasil, além do Inner Monster Out do Shadowside que já fiz um review, tivemos os lançamentos do Motion (Almah), do Animal (Dr.Sin), do Blunt Force Trauma (Cavalera Conspiracy) e de outros possíveis bons CDs que ainda não tive a oportunidade de ouvir. Uma banda que eu ainda não conhecia até semana passada, e que já é uma das minhas preferidas, é o Hibria! Tudo graças ao excelente álbum “Blind Ride”



Uma coisa que sempre me decepciona em um CD é quando a banda faz duas ou três músicas sensacionais e completa o álbum com várias outras músicas sem muita inspiração, ou então quando muitas músicas são fodas, mas são cheias de momentos ruins que quebram o clima. Nada disso acontece em “Blind Ride” A grande maioria das músicas são boas do começo ao fim e, apesar de seguir um estilo bem definido, cada uma tem seus momentos que as distinguem entre si, fazendo com que seja difícil de gostar de apenas uma ou outra.

Não dá pra encaixar Blind Ride em qualquer outro estilo que não seja o puro heavy metal, por mais que existam várias influências de power, progressivo e thrash, o clima do CD é de puro heavy. As linhas de vocal são incríveis e se encaixam com os riffs de forma quase que “orgânica”. A variedade de melodias deste álbum é rara, cada música tem um momento especial que te chama a atenção, o Hibria tem tudo pra fazer história no heavy metal nacional e já vem fazendo.



Não tenho dúvidas que este é um dos melhores CDs que ouvi ultimamente, gostei muito da “Sigh of Blindness”, da “Nonconforming minds” e da “Shoot me Down”. Mas é muito difícil falar que essas são as melhores, pois estão no mesmo nível do resto do álbum. Blind Ride vale a pena ser ouvido na íntegra, coisa que ultimamente é cada vez mais raro.


quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Raio X: Born in a Mourning Hall - "Preso dentro de uma teia chamada vida"




“De fato isso foi quase uma explosão (fallout) real
Tudo está sob controle”
O narrador disse com um sorriso sério
Atrás de sua máscara
Ele sabia a verdade
“Eu trarei uma nova era de melhores caminhos”
O pregador da TV disse
“Apenas pague hoje
Pague hoje”

O mundo está vestido de preto
No dia do julgamento da terra
E eu?
Eu sei que isto não pode continuar
Sinais proibidos aumentam
Eu estou sentado em casa
E observando

Nascido em um aposento de lamentações
Nuvens pálidas temeram
A criança não nascida
Então ela cresceu com planos crescentes
De suicídio
Nascido em um aposento de lamentações
Sombras deixam o medo dentro
Aquele Peter Pan nunca irá alcançar
O outro lado

É aterrorizante
Excitante sentar em casa
E observar os campos em chamas
Ser hipnotizado pela cobra da TV

Obedeça, trabalhe duro
E não sinta raiva
Apenas simpatia pela alta classe
Não há chance de mudar as coisas
Porque eu sou

Nascido em um aposento de lamentações
Gritos silenciosos ocorrem
Quando o berço quebra
Sonhos destruídos não foram ouvidos
No outro lado
Nascido em um aposento de lamentações
Sombras deixam o medo
na criança recém-nascida
Aquele Peter Pan nunca irá alcançar
O outro lado

E eu sou parte da máquina
Um fantoche nas cordas
Um rebelde, outrora
Agora eu sou um homem velho

Eu sei que isto não pode continuar
Mas o fantasma chamado medo interior
Aleija minha língua
Meus nervos, minha mente
Queda eterna
Alguém corta as cordas
Eu não consigo me mexer
Para recuperar a coragem
Eu tenho que encarar a verdade
Mas não hoje
Adeus

Nascido em um aposento de lamentações
Preso dentro de uma teia chamada vida
O único jeito de sair dela logo
É o suicídio
Nascido em um aposento de lamentações
Almas pálidas constroem um mundo gelado
Cérebros infectados
Nunca alcançarão o outro lado
O outro lado



O post de hoje vai falar da ótima “Born in a Mourning Hall” do Blind Guardian! Se você gosta de músicas que não tenham apenas letras, mas sim poemas, Blind Guardian é a banda para você. Eles são mestres na arte da composição, eles elevam a arte de fazer heavy metal a outro patamar. Uma das coisas mais impressionantes é que eles conseguem fazer quase todas as músicas sem rimar e é muito difícil de perceber quando você ouve despreocupadamente. Além disso, a grande maioria das músicas dos caras são interpretações de obras de ficção, de momentos históricos ou de passagens mitológicas. O interessante é que eles não recontam as obras em suas músicas, eles revivem os personagens. Ouvir Blind Guardian cantando sobre um algo que você goste é uma experiência ímpar.

Born in a Mourning Hall foge um pouco da regra, pois o personagem que a banda nos apresenta está falando sobre a realidade atual (de 1996). Assim como em Paradise e Livin’ on a Chain Gang, o eu lírico começa assistindo TV, nesse caso a TV é o que motiva a reflexão sobre o mundo, principalmente pelo que ela não diz. Temos duas críticas já na primeira estrofe, mas elas se interligam. O jornalismo da TV tenta manter as pessoas em medo constante, no caso relatado, o medo é em relação a um acidente radioativo (fallout). Já a religião da TV se aproveita deste mesmo medo, para que você contribua financeiramente.

É interessante essa ideia de medo constante. Apesar de vivermos em um país violento, ninguém estranha termos vários programas que ficam “caçando” desgraça pelas ruas durante a tarde? Será que não há nenhum outro tipo de notícia para transmitir? Apesar de ser triste, não sei por que é tão importante que saibamos de todos os delitos cometidos durante o dia. A melhor explicação pra isso que eu já ouvi vem do documentário “Tiros em Columbine” de Michael Moore: Enquanto as pessoas estiverem com medo, não arriscarão subverter o status quo, enquanto não estiverem seguras em sair na rua, não vale a pena tentar resolver problemas mais urgentes. Esse tipo de argumento é ainda mais aprofundado no livro “1984” de George Orwell, onde o governo de “Oceania” está em guerra constante contra seus inimigos, muito provavelmente apenas para justificar todos os abusos de poder.



No decorrer da música somos apresentados a uma pessoa consciente das contradições do sistema, mas que se vê impossibilitada de agir. Aparentemente, o personagem descrito lutou contra tudo isso e falhou em seus objetivos. Mas não foi uma derrota física, foi uma derrota mental. A própria experiência de vida mostrou insistentemente que ele era muito insignificante perto da magnitude da estrutura estabelecida. Creio que muitas pessoas se sentem assim (eu sou uma delas): apesar de considerarem que o mundo poderia ser bem melhor, não encontram nenhum tipo de opção que traga algum horizonte de melhora. É claro que sempre podemos melhorar um pouco a vida das pessoas a nossa volta, mas com o tempo as coisas voltam a ser como sempre foram. A impressão é que nada nunca muda.

Porém, nos refrões, quem se comunica com o ouvinte é uma espécie de narrador que, através de metáforas, explicam o porquê de toda essa imobilidade. A impotência do personagem é muito mais interior do que exterior: Almas pálidas constroem um mundo gelado / Cérebros infectados / Nunca alcançarão o outro lado. O mundo em que vivemos é um pouco cruel nesse sentido. Diferentemente de outras épocas, em que as coisas eram como eram porque deveriam ser daquele jeito, qualquer um tem acesso fácil a diversos livros subversivos que vão do Manifesto Comunista até o Mein Kampf hoje em dia. Qualquer um que se interesse tem acesso aos mais diversos tipos de visão de mundo, mas somos tão condicionados a aceitar que o Estado e o sistema econômico são inatingíveis, que não enxergamos nenhum horizonte de mudança real, pelo menos não para melhor. É muito comum as pessoas não simpatizarem com seus governos e com o mundo em geral, mas mesmo assim, seus cérebros infectados não conseguem dar o primeiro passo em direção ao outro lado.

A mensagem que essa música passa é um pouco desanimadora, mas, apesar disso, ela causa um incômodo benéfico na minha opinião. A única coisa que não pode impedir-nos de fazer o que achamos certo é nós mesmos. Nunca saberemos se é possível mudar se não tentarmos, deixar de acreditar em algo sem antes tentar colocar em prática, pode ser um desperdício sem tamanho. Mesmo que acabemos como um rebelde frustrado, pelo menos teremos consciência que tentamos.


terça-feira, 25 de outubro de 2011

Profile: Hard Rock - 1970, a década de ouro.


A história do heavy metal e do Hard Rock começa em maio de 1968. Neste ano estudantes de Paris saíram nas ruas para reivindicar melhorias na educação, além de mais liberdade de expressão. Este movimento reverberou por todo o mundo, os jovens saíram nas ruas em vários outros países da Europa e até nos EUA e no Brasil. Foi o grito da liberdade da juventude que era vista só como um problema, finalmente mostrou para o mundo que tinha algo a falar. Só em um ambiente como esse que o rock poderia passar a ser agressivo de verdade.

Neste ano foi gravada a música que muitos atribuem como a fundação do Hard Rock: a "Helter Skelter" dos Beatles. De acordo com o próprio Paul McCartney essa música é uma metáfora entre um brinquedo de escorregar britânico e a queda do império romano. Mas foi interpretada de várias formas e claramente influenciou muito do que viria por aí. Outras bandas que nessa época influenciaram o hard rock dos anos 70 foram o Jeff Back e o Iron Butterfly.



Paralelamente a isso, já no começo de 68, a banda Blue Cheer lançava o seu primeiro álbum, o “Vincebus Eruptum” que já dá pra chamar de Hard Rock, apesar de a banda ter, posteriormente, seguido o caminho do rock psicodélico. De acordo com a própria banda, o que eles faziam era “distorcer o blues até ele ficar irreconhecível”. Neste CD já é possível identificar os elementos que seriam a marca dos anos 70, como a guitarra distorcida e a experimentação musical.

Mas as coisas começam a ter a dimensão merecida quando, em Julho de 1968, Jimmy Page (guita... você sabe né?) forma a banda “The New Yardbirds” com Robert Plant (vocal), John Bonham (Bateria) e John Paul Jones (que substituiu Chris Dreja no baixo). Após alguns shows,  mudaram o nome para Led Zeppelin ainda no mesmo ano. Led Zeppelin é uma das mais importantes bandas da história. Apesar da carreira curta (a banda acabou em 1980), eles influenciaram o rock tanto musicalmente quanto visualmente. A sonoridade dos caras é difícil de definir, é um blues misturado com progressivo com solos rápidos e bem trabalhados, além de muitas influencias de outros estilos, como o Jazz e o Folk Rock. A música que eu particularmente mais curto deles é a “Rock and Roll”, clique e ouça!



Outra banda que é referência quando se fala de Hard Rock é o Deep Purple. Para mim, é a melhor banda dessa época e é concenso os caras são um marco no estilo. Diferentemente do Led, Os caras do Deep Purple demoraram um pouco mais para encontrar o estilo que marcaria a história da banda, foi só quando Ian Gillan (vocal) e Roger Glover (baixo) entraram no lugar de Rod Evans e Nick Simper, e se juntaram a Ritchie Blackmore (guitarra), Jon Lord (Teclado) e Ian Paice(bateria) que a banda finalmente encontrou o caminho no disco “Deep Purple in Rock”. Mas creio que a obra prima dos caras (e, na minha opinião de fã, da década) foi o Machine Head. Este disco tem a música que eu mais gosto dos caras, a “Highway Star”, além da clássica “Smoke on the Water”.

Apesar de eles não gostarem do rótulo, a sonoridade deles muitas vezes se confunde com heavy metal, é difícil definir um estilo para uma banda com mais de 40 anos de estrada, mas a forte distorção da guitarra, a voz potente de Gillan e a presença marcante do teclado, são marcas registradas. A banda passou por diversas formações nesses anos, a história do Deep Purple está recheada de estrelas como Joe Satriani (guitarra), David Coverdale (vocal) e Glenn Hughes (baixo,vocal). Uma música que eu aconselho das fases posteriores é “Stormbringer”!



O Hard rock dos anos 70 não era feito apenas de bandas inglesas. Nos EUA, em 1971, Alice Cooper atinge grande sucesso com o álbum “Love it to Death” e no ano seguinte com o disco “School’s Out”. O estilo musical deles já era um pouco mais comercial, mas muito inovador, e é em 71 que eles começaram a transformar o show em uma apresentação teatral regada de efeitos que simulavam cenas de horror com sangue e até cobras. A minha recomendação deles é a “Bed of Nails”. Outra banda americana que ditaria a sonoridade do Hard Rock na década seguinte é o Aerosmith. Apesar de não ter feito sucesso já em seu lançamento, o primeiro disco dos caras, o“Aerosmith”, tem duas das melhores músicas da banda, a “Dream On” e a “Mama Kin”, além de várias outras músicas foda. Mas o CD que realmente definiu a influência do Aerosmith foi o “Rocks”, que contava com a fodástica “Back in the Saddle”. Neste disco já possível ver os elementos que influenciariam o glam metal dos anos 80.

Apesar de Alice Cooper e Aerosmith terem sido importantes na inspiração da sonoridade e do visual do rock nos EUA, nada se compara ao fenômeno que foi o Kiss. Tratar o Kiss apenas como uma banda não faz justiça ao que esses caras representaram, eles estavam mais para super-heróis. Eles são a personificação do "sexo, drogas e rock ‘n’ roll". Os caras eram uma máquina de vender qualquer tipo de coisa, tinham uma legião de fãs fanáticos e outra de pessoas que os acusavam de todo o tipo de subversão. Musicalmente eles não ficavam atrás, com alguns elementos pops, agradavam uma gama inacreditável do público. Além do mega clássico “Rock and Roll All Nite” uma música que aconselho a ouvir é “Lick it Up”.



Voltando para Inglaterra, não posso deixar de falar de Queen. A banda que viria a consagrar Fred Mercury como um dos melhores vocalistas do Rock começou, em 1970, com uma sonoridade pesada pra época, em seu primeiro álbum “Queen” usando já elementos do incipiente Heavy Metal. Mas foi com o “A Night At Opera” que eles conseguiram alcançar o topo das paradas do Reino Unido. O Queen elevava o Rock da época até um patamar erudito, influenciou muitas bandas com a mistura de música clássica. São poucas as bandas que têm composições com melodias tão bem feitas. A que eu mais gosto é a “Spread your Wings”.

Os anos 70 tiveram outras grandes bandas, como Rush e Thin Lizzy que valem a pena serem ouvidas, além de bandas como AC/DC e Van Halen que também marcaram parte da década, mas como eles também foram fortes nos anos 80, falarei deles em outro post. Não é fácil detalhar muito uma década inteira de bandas tão boas. poucas bandas posteriores alcançaram tamanho renome. Este texto serve apenas como um guia para quem ainda não teve tanto contato com os gigantes que ajudaram a fundar o nosso tão querido e estimado heavy metal.


sábado, 22 de outubro de 2011

Review: Elysium - A volta dos que não foram


A troca de integrantes acontece muito freqüentemente no heavy metal. Quem acompanha bandas como Iron Maiden ou Helloween sabe do que eu estou falando. Algumas vezes a troca faz bem e outras não, mas ela acaba marcando a história da banda. Quando Bruce Dickinson entrou no Iron Maiden, ele foi o ingrediente final para se tornarem a maior banda de metal da história, já quando Kai Hansen saiu do Helloween, este nunca mais foi o mesmo (apesar de ser ainda muito bom, mas de forma diferente). Em 2008, Timo Tolkki anunciou o fim do Stratovarius, mas, em 2011, o álbum Elysium veio para mostrar que ele estava errado.



A saída de Tolkki da banda foi recheada de informações desencontradas, acusações e ofensas. Como era aoenas um contra três, da pra imaginar por que, ao invés de apenas sair da banda, Tolkki declarou o fim dela, sem nem consultar direito os outros integrantes: o cara parece ser meio “sentimental”. Dá pra ver também que a banda quase acabou por causa de dinheiro e só continuou por causa de dinheiro, mas isso é normal.

Não acredito que seja fácil fazer a mesma coisa por décadas e manter a mesma paixão, sem contar o fato de os caras terem contas para pagar, claro. Acho que não dá pra exigir que todas as bandas tenham aquele “jeitão” dos caras do Deep Purple ou do AC/DC que já tão velhinhos e mesmo assim parecem amar o que fazem. Porém, acho que é possível sim uma banda se manter foda, mesmo que os integrantes não gostem mais de estar no palco tanto assim. Acho que é o que acontece com a maioria das bandas com certa rodagem.


Não sei se Elysium é o resultado de uma banda de mercenários, mas não tem problema, o CD ainda é um Stratovarius! Se eu não soubesse o que tivesse acontecido, dificilmente teria percebido que Tolkki não era mais quem compõe as músicas. Elas continuam com melodias incríveis, letras edificantes em solos rápidos - em suma, ainda é Stratovarius. Gostei muito das músicas, me chamaram a atenção a “Event Horizon” e a “Under Flaming Skies”. Não deixe de ouvir o CD novo do conturbado, mas ainda vivo, Stratovarius!


quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Raio X: Angel of Death - Descrevendo o nazismo pelo seu lado mais perverso




Atenção: Esta música contém descrições detalhadas de processos de tortura.

Auschwitz, a verdadeira dor
O jeito que eu quero que você morra
Morte lenta, decadência imensa
Chuveiros que lhe purificam a vida

Forçados
Como gado vocês correm
Despojado do valor de sua vida
Rato humano, para o anjo da morte
Mais de quatrocentos mil para morrer

Anjo da morte
Monarca do reino dos mortos

Sádico, cirurgião da morte
Sadista do mais nobre sangue
Destruindo, sem piedade
Para beneficiar a raça ariana

Cirurgia, sem anestesia
Sinta a faca te perfurando intensamente
Inferior, sem utilidade para humanidade
Amarrado, gritando loucamente para morrer

Anjo da morte
Monarca do reino dos mortos
Açougueiro infame
Anjo da morte

Bombeado com fluido, dentro do cérebro
A pressão no seu crânio começa a
Empurrar os seus olhos
Carne queimando, pingando
Testes mentais queimam sua pele
Sua mente começa a ferver

Frio frígido quebra os seus membros
Quanto tempo você consegue aguentar
Neste funeral de água congelada?
Costurados juntos, juntando cabeças
Apenas uma questão de tempo
Até vocês serem esquartejados

Milhões jazem nas suas
Tumbas lotadas
Jeitos perversos de alcançar
O Holocausto

Mares de sangue, vida enterrada.
Sinta o cheiro de sua morte enquanto você queima
Lá no fundo, dentro de você
Abacinar, olhos que sangram
Rezando para o fim       
Do seu bem desperto pesadelo

Asas de dor buscam você
Sua face de morte te encarando
Seu sangue correndo frio
Injetando células, olhos mortais
Se alimentando dos gritos dos
Mutantes que ele está criando

Vítimas patéticas e inofensivas
Deixadas para morrer
Desprezível anjo da morte
Voando livre

Anjo da morte
Monarca do reino dos mortos
Açougueiro infame
Anjo da morte



"Angel of Death" do Slayer é uma das músicas mais controversas do heavy metal. Acredito que quem ouve esta música e a encara como apologia ao nazismo, parou de ler nos primeiros versos. Mas, mesmo assim, essa foi uma interpretação muito comum na data de seu lançamento, isso ainda é agravado pelo interesse que Jeff Hanneman (compositor da música) tem por medalhas nazistas.

O “Anjo da Morte” tratado na música é um médico nazista chamado Josef Mengele que ministrava experiências com os prisioneiros de Auschwitz. A música foca no sofrimento de suas experiências e traz um sentimento de angústia por toda a letra. A forma como Hanneman descreve as torturas é desesperadora, trata de coisas que nem passam por nossas cabeças quando pensamos em tortura. Quando ele diz “costurados Juntos” (Sewn Together), talvez ele esteja se referindo a experiência realizado com gêmeos, que tinham suas veias interligadas, algo que só um nazista fanático, e um grande filho da puta, pensaria.

Uma das principais críticas à música é que ela não deixa claro que os nazistas são maus, eu discordo totalmente. Quem lê essas palavras e não fica imediatamente revoltado, deve ter algum tipo de sadismo perverso. Na própria música ele fala que o tal do Mengele era um cara desprezível, infame e perverso. A resposta de Hanneman, quando perguntado dessa omissão é bem clara: “Nada do que eu pus na letra diz necessariamente que ele era um cara mau, porque para mim, bem, não é óbvio? Eu não deveria ter que te dizer isso”.



O que talvez incomode um pouco quem não gosta da música é o seu clima de documentário, a música é muito mais descritiva do que argumentativa. Talvez um nazista sádico consiga gostar do que está escrito e se identificar com o tal anjo da morte, mas no contesto de uma banda americana com integrantes de diversas etnias, é muita ingenuidade rotular Angel of Death como apologia ao nazismo.

Há quem acredite que, apesar de não fazer apologia, a música banaliza o sofrimento causado pelas atrocidades dos campos de concentração e defende que o tema não deva ser tratado de determinadas formas. Eu acho isso um terrível engano, quanto mais ouvirmos falar sobre o Holocausto, mais tentaremos evitar que ele se repita. Hoje há algumas pessoas - como Ahmadinejad, presidente do Irã. – que acreditam que o Holocausto não aconteceu. Muitas pessoas não sabem da sua gravidade e uma música como Angel of Death mostra que é algo que não pode se repetir.



Na minha opinião, o que os nazistas fizeram com seus prisioneiros - tanto judeus, como ciganos, russos e poloneses - em Auschwitz, é a demonstração que não podemos vacilar em relação aos direitos humanos. Se olharmos para Alemanha do século XIX, vemos um país com grandes filósofos e artistas, uma grande oposição ao utilitarismo tão em voga na época, grandes pensadores, que valorizavam a força dos indivíduos em relação ao todo. Esse mesmo país, devido ao turbulento início do século XX, acabou mudando a ponto de se tornar irreconhecível na mão dos nazistas, e o que no começo era, para o povo, um projeto de construção de uma grande nação, acabou se transformando em um estado totalmente despótico.

Quando passamos por determinadas crises, muitas vezes é mais fácil apontar um inimigo, qualquer que seja, ao invés de tratar o problema da forma correta. As pessoas são manipuláveis e o ódio une muito mais que respeito. É preciso sempre respeitar os indivíduos e seus direitos inalienáveis não importa quem seja. Qualquer tipo de violação de direito pode sempre se voltar contra você. Ter consciência dos erros do passado é muito mais frutífero do que fingir que nunca aconteceu. Uma música como Angel of Death é claramente uma denuncia do que o ser humano é capaz, e é extremamente importante que saibamos disso.


terça-feira, 18 de outubro de 2011

Universo Headbanger: A dura e ativa mitologia nórdica



Atenção: Esse post é melhor apreciado ao som de Amon Amarth ou Manowar.

Uma coisa que sempre me atraiu no heavy metal é a capacidade de contar estórias. A influência da música clássica auxilia muito nesse quesito. Bandas como Blind Guardian e Avantasia narram verdadeiros épicos através de variações de linas melódicas e uma narração digna de chamar de poesia. As temáticas das estórias vão longe, desde temas históricos, passando pela literatura e, é claro, a mitologia. 

A mitologia nórdica tem um espaço considerável no estilo. A imagem cristã dos guerreiros vikings incansáveis, terríveis em batalha, é um prato cheio para narrativas de grandes guerras e improváveis conquistas. Assim como na mitologia grega, os deuses nórdicos representam, em uma escala divina, a humanidade. Mas quando olhamos para a mitologia nórdica mais a fundo, encontramos elementos que os aproximam muito mais do “jeito” metal de ver o mundo.



A fonte para as análises deste post é o livro “Magic, Fate, and History: The Changing Ethos of the Vikings” da antropóloga Rosalie H. Wax. Ela chama a atenção para alguns fatores peculiares da mitologia escandinava. Uma delas é que na mitologia viking nada é estático, tudo está em movimento. Por exemplo, o Sol e a Lua voam pelo céu e atrás deles lobos correm com a intenção de comê-los. Outro exemplo é a árvore-mundo “Yggdrasill” que é sujeita a intermináveis assaltos e renovações, serpentes roem as suas raízes e cervos rasgam seus ramos. Enquanto isso, Três deusas banham a árvore com um líquido potente de um poço sagrado, só assim Yggdrasill consegue se manter viva. Mesmo os deuses sempre estão fazendo alguma coisa, Odin está sempre buscando sabedoria arcana, Thor Está sempre indo para o leste enfrentar os gigantes, nada nunca para.

Isso tem tudo a ver com heavy metal, ainda mais os estilos mais épicos. As músicas precisam sempre “se mover”. Os riffs deixam sempre clara a passagem do tempo. A visão de mundo de um headbanger é de um mundo que muda e precisa ser mudado. Assim como na mitologia nórdica, a impressão é que tudo pode ruir a qualquer momento. Não há espaço para contemplação pura e simples, é sempre preciso avançar, crescer, melhorar. Diferentemente da cultura grega ou judaica, na mitologia nórdica os homens são responsáveis por suas ações, não há inspiração ou manipulação divina, se queremos alcançar algum objetivo, nada nos carregará até ele. Um choque de realidade muito comum em letras de heavy metal.


 Outra coisa interessante que eu vi neste livro é a substancialidade do mundo nórdico, como diria Wax: “Se algo não pode ser sentido pelas mãos, ou, melhor ainda, não emite som (ring) ou quebra quando acertado, não é considerado digno de nota; Se algo não pode ser claramente visto pelo olho em seu contorno preciso e definitivo, não vale a pena descrevê-lo”. Na mitologia viking os mortos nunca viram fantasmas, eles ainda mantêm o seu corpo em Valhalla ou em Hel. Graças a isso, o mito de criação viking não vem de um vazio primordial, mas de vastos rios cósmicos alimentados por várias chuvas, esses rios congelaram e, quando começaram a derreter, de uma gota nasceu o primeiro gigante de gelo “Ymir”. Mas ele foi assassinado por Odin e outros deuses e estes fizeram o mundo a partir do corpo do gigante: Do sangue dele fizeram os mares e lagos, da sua carne fizeram a terra, dos seus ossos fizeram as montanhas, do seu crânio fizeram o céu e de seu cérebro fizeram as nuvens.

Essa visão substancial do mundo é muito peculiar. Normalmente ligamos religiões e mitologia a espíritos e coisas que não fazem parte do nosso plano, mas os homens do norte não precisavam supor outro patamar para os seus deuses, eles eram como eles. Com a forte característica antirreligiosa de alguns estilos de metal, nada como uma mitologia onde todos podem ser quebrados, esmagados, cortados, torcidos e rasgados.  Essa forma materialista de ver o mundo e os deuses se aproxima muito mais das pessoas com pouca crença. Cantar sobre a alma quando você não é religioso é complicado, mas falar sobre Thor, que é simplesmente um guerreiro com status de deus, não tem nenhum problema. Ninguém sabe como Jeová é, mesmo Jesus transcendia a sua própria carne, mas não havia dúvidas de como descrever Odin, grande e terrível.



A mitologia do povo que se arranjou nos confins mais frios da Europa tem tudo para combinar com o estilo de rock mais agressivo e mais fantasioso, mas a própria história de conquistas dos Vikings também é uma ótima inspiração. Seu território se espalhou pela Europa no inicio segundo milênio, chegaram a ter possessões na Inglaterra, Alemanha, França, Itália, Rússia e até nas margens do mar negro. Fora da Europa, dominaram parte da Groelândia e chegaram até a o Canadá e invadiam constantemente territórios ao norte da África. Essa Disposição expansionista somada a imagem da antiga literatura escandinava dos “Bersekers” – Guerreiros incontroláveis lutando com inspiração religiosa fanática – Cria uma imagem do povo guerreiro perfeito. O complexo de Davi e Golias não é uma temática unânime nas músicas de heavy metal, muitas vezes é o mais forte que vence, e os vikings, pelo menos nas lendas, sempre eram os mais fortes.

Talvez haja algo na cultura dos Vikings que os aproximem mais intimamente com o heavy metal, não deve ser por acaso que os países nórdicos são uma das principais fontes de boas bandas. Da Finlândia temos Children of Bodom, Finntroll, Nightwish e Stratovarius; da Noruega temos Burzum, Darkthrone, Dimmu Borgir, Mayhen, Tristania e toda uma cena de Black Metal e Gothic Metal; Na Suécia temos o Amon Amarth, Arch Enemy, HammerFall e Marduk; Na Dinamarca temos o King Diamond e o Mercyful Fate (desculpem-me pelas bandas que esqueci). Para se ter uma ideia, estamos falando de uma população total de aproximadamente 20 milhões de pessoas, a mesma que a região metropolitana de São Paulo. Não há como negar que os Vikings têm tudo a ver com heavy metal.


sábado, 15 de outubro de 2011

Review: Epilson - Evocando as vozes do seu coração


No geral, as bandas de heavy metal cumprem muito bem o seu papel de “mau”. Algumas bandas fazem críticas severas ao sistema, outras ironizam a tradição e o costume, algumas também invocam seres mitológicos ligados a crueldade como temática e, muitas delas, simplesmente descrevem situações violentas sem nenhuma temática definida. Mas, apesar de ser totalmente válido esse lado maligno, algumas bandas são um pouco mais “felizes” e, entre elas, temos a finlandesa Dreamtale com o seu épico álbum intitulado “Epilson”.



Esse tipo de música fantasiosa que narra grandes eventos e evoca um heroísmo ideal, libera o que há de pior em mim. Não canso de ouvir discursos inflamados, frases de efeitos e coisas que se relacionam com coragem e senso de dever. Quando isso se mistura com linhas melódicas elaboradas e um refrão longo e épico, pronto, meu lado brega aflora e eu ouço aquelas músicas como se elas falassem de algo muito mais “real” do que realmente falam. Muito parecido com a sensação de que conhecemos os personagens dos livros que lemos em sua mais íntima personalidade, ou quando torcemos pelo protagonista de um filme cujo final vai ser feliz de qualquer forma.

Todos esses elementos podem ser encontrados à exaustão em Epilson. Dreamtale foge um pouco da tendência atual do Power metal de misturar elementos de hard rock ou thrash metal. Eles ainda fazem o que, aqui no Brasil, chamamos de metal melódico. O teclado é muito presente nas composições e a guitarra é um pouco menos presente que o normal para elevar a importância das linhas de vocal. 



Gostei muito da décima faixa do CD, a “March to Glory”. Aliás, quando eu comecei a ler a sua letra, tive a impressão que tratava de temas religiosos, de tão sério que a letra evoca a sua fantasia. Claro que quando a música narra um anjo de luz dançando com uma besta e diz que o “bom e o mau são o mesmo, pelo menos” as coisas ficaram mais claras. As músicas “Angel of Light” e “Stranger’s Ode”  também me chamaram muito a atenção. Não deixe de ouvir Epilson!