segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Metal Nacional: Maloqueiro e sem futuro neste "Mundo Cao"


O heavy metal no Brasil sempre foi forte, apesar de estarmos fora do eixo norte que centraliza a produção de bandas, temos grandes ícones do estilo. Já ficou até clichê falar do destaque internacional de bandas como Sepultura e Angra. Devido à mudança da indústria musical após a falência da “mídia” CD, parece que a cena nacional deu uma esfriada. Ainda aparecem boas bandas no “mainstream”, mas as casas de show (pelo menos aqui em são Paulo) estão muito mais voltadas para as bandas covers,  está mais difícil conhecer coisas novas atualmente, ainda mais ao vivo. Para minha surpresa, recebi um e-mail divulgando este clipe:



A banda é a Mundo Cao formada por Zeca Salgueiro (baixo/voz), Fabio Gadel (guitarra/voz) e Ivan Busic (bateria, aquele do Dr. Sin). Essa música tem uma cara de anos 80 inegável, um hard rock de qualidade com riffs bem trabalhados e um ótimo vocal. É interessante essa estranheza que ouvir hard rock ou heavy metal em português causa. Aparentemente, o que causa essa sensação de que tem algo faltando é apenas o costume, afinal a língua portuguesa não deixa nada a desejar ao inglês ou qualquer outra língua. Talvez o único empecilho seja mesmo a dificuldade na divulgação internacional.

O bom de a música ser em português é que a letra salta aos ouvidos, uma ótima letra por sinal. Ela traz um conceito bem interessante. Pense, algumas vezes, esperamos que pessoas com dificuldades se mantivessem dentro das “regras do jogo” e criticamos quando, apesar de toda a dificuldade, alguém roube algo, se perca nas drogas, trabalhe para o tráfico etc. Mas este tipo de pensamento ignora o fato de que, muitas vezes, a própria pessoa leva uma vida tão ruim, que o custo/benefício de cometer aquele ato vale a pena, mesmo que ela própria talvez condene. A pessoa sabe que pode ser presa, que pode apanhar, que vai ter que fugir por um tempo e até, que está aumentando o seu tempo em algum tipo de purgatório dependendo das crenças dela. Essa ideia é importante relevar quando falamos de desigualdade e segurança pública.



O blog do vocalista é http://zecasalgueiro.blogspot.com, dê uma passadinha lá para conhecer mais. Se você tem uma banda, ou conhece alguém que tenha, faça como os caras do Mundo Cao e nos envie pelo Twitter @FilosofiaMetal, ou pelo meu e-mail (vinicius.nas.silva@gmail.com), se for bom e tiver o espírito do blog, o espaço aqui é garantido!


sábado, 24 de setembro de 2011

Review: Khaos Legion - Trazendo o "kaos" para os paradigmas


O heavy metal é um estilo musical muito difundido e atinge vários grupos sociais. Você encontra fãs de heavy metal em quase qualquer lugar que as pessoas tenham acesso irrestrito a música. Porém, existem algumas regularidades, uma delas é que há menos mulheres participando das bandas do que homens. Uma visão mais ingênua poderia dizer que isso é resultado da falta de capacidade das mulheres terem a agressividade necessária, mas Angela Gossow e o Arch Enemy mostram mais uma em “Khaos Legions” que isso está errado.



Khaos Legion me impressionou pela diversidade de sonoridade. É muito difícil definir em que “caixa” colocar a sonoridade dos caras. O álbum transita entre Death, Black, Thrash e Power. A união harmônica entre o peso de Riffs e linhas melódicas de guitarra é um dos pontos altos do CD. Além disso, as músicas são muito bem trabalhadas, variações rítmicas e melódicas são usadas diversas vezes e normalmente com sucesso.

Mas não tem como falar de Arch Enemy sem ressaltar o vocal da Angela Gossow. Até eu ouvi-la cantar, não imaginava que era possível uma mulher cantar tão agressivamente, até porque eu mesmo nem imagino como um ser humano consegue manter uma voz dessas durante um show inteiro. É uma experiência interessante mostrar Arch Enemy só em áudio pra alguém, depois mostrar um clipe deles e ver o espanto na cara da pessoa.



O espanto em ver uma moça baixinha à frente de uns marmanjões cantando músicas tão fortes e pesadas mostra que o heavy metal ainda não é acessível na mesma proporção em todos os meios sociais. A falta de mulheres guitarristas reconhecidas é emblemática, quando vai aparecer a Angela Grossow das guitarras? Você mulher que gosta de ouvir heavy metal, sabe tocar algum instrumento? Se não, o que está esperando? Bem, isso é assunto para depois.




quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Heavy Metal Não É Só Mais Um



Creio que praticamente todo mundo que acessa o blog, gosta de heavy metal. Já pararam pra pensar o que faz o metal ser tão bom? Por que tantas pessoas simplesmente não conseguem gostar e acham que é tudo barulho igual? Por que um estilo que desde os anos 90 é considerado underground não parece estar em declínio? Não sou maluco de tentar responder tudo isso em um único post e acabar com o assunto no blog, mas há um aspecto que permeia tudo isso que vou falar hoje: a diversidade do heavy metal.

O heavy metal segue uma árvore genealógica que mistura muitos movimentos musicais, como o rock, o blues, a música clássica e, dependendo da imaginação do compositor, até jazz e músicas regionais. Se analisarmos historicamente não houve grandes rupturas no estilo. Os caras dos anos 70 se inspiravam nos caras dos 60, os caras dos anos 80 se inspiravam nas bandas de 70 e de 60, assim segue até hoje. Nunca houve um estilo que negasse a herança anterior.

Mesmo assim as diferenças entre um Metalcore, ou um Black metal comparados com as bandas fundadoras do estilo (Judas Priest, Black Sabbath etc.) são enormes, muito maiores do que a diferença entre os primeiros álbuns de heavy metal e o hard rock inglês, Além das diferenças marcantes em estilos mais contemporâneos. A mesma coisa não acontece em qualquer movimento musical. Eu não acho justo dar muitos exemplos aqui, porque o que eu realmente ouço é heavy metal. Mas, pensando em termos de nomenclatura, não sei de algum outro estilo musical que tenha criado tantos subgêneros como o heavy metal em apenas 40 anos.

Uma diferença marcante do heavy metal em relação a outros estilos é a sua liberdade temática. Não só não há nada de ideológico em ser headbanger, mas também há uma variedade de assuntos abordados que é inimaginável em outros estilos musicais. Você não vai ver por aí muitos estilos falando bem de religião, mal de religião, sexo, drogas, rock ’n’ roll, coisas liberais, coisas conservadoras, histórias de terror, auto-ajuda, histórias fantásticas, críticas a sociedade, coisas românticas e até músicas falando sobre piratas e duendes.



Acredito que essa liberdade é fundamental para entender a diversidade do heavy metal. Se eu quero falar de como é bom uma vida livre regada a álcool e rock, uma música mais solta, com riffs mais marcantes vai ser uma boa escolha. Se eu quero contar como um herói vai jogar as sete chaves nos sete mares para que o mundo não seja vendido pelo ouro de lúcifer, como previu o vidente antes de ficar cego (Se não entendeu, se mat... clique aqui), talvez compense mais fazer uma música grande, com momentos diferenciados e melodias épicas. Se, ao invés disso, eu preferir fazer uma música para criticar (algumas vezes até ofender) algum paradigma social muito internalizado (como religião, capitalismo ou preconceitos), talvez compense eu compor algo muito agressivo, que vá tocar no âmago do ouvinte de tão rápido e grave.

O interessante é que o processo não se dá aos saltos. As coisas se dão de forma gradual. O objetivo de uma composição, normalmente, não é passar alguma mensagem, mas sim fazer uma boa música. As especificações dos estilos se dão muito mais de uma forma experimental. A banda inventa uma pequena modificação para criar uma sonoridade um pouco mais em sintonia com a ideia da música, essa música pode eventualmente ter uma boa aceitação de um nicho e inspirar outra banda a incorporar essa nova sonoridade em suas músicas, mas esta também vai experimentar coisas novas. Passando-se um tempo, as experimentações bem-sucedidas sobrevivem e acaba dando cara a uma nova forma de se fazer heavy metal.

Por que será que isso não acontece tanto em outros estilos musicais contemporâneos? Como eu não sou grande conhecedor de tudo que se produz por aí, não vou generalizar. O que eu percebo é que muitos estilos não sobrevivem com o tempo e, mesmo alguns que se mantêm, não se reinventam da mesma forma que o metal. Coisas como a música Disco, Dance, Grunge etc., não são nem sombra do que já foram um dia. Um dos motivos, na minha opinião, que faz o heavy metal se manter independente das mudanças do mercado musical é o fato de seus fãs não se contentarem apenas com a superfície do produto oferecido pelas bandas, coisa que também deve acontecer em alguns outros estilos como a MPB, por exemplo. 



Em alguns estilos, parece-me, as pessoas querem ouvir mais do mesmo, as bandas vêm em enxurrada, totalmente monotemáticas, sem um grande aprofundamento da parte musical (a não ser que contrate um produtor que cuide disso), causam um grande alvoroço e depois caem no esquecimento. A impressão que dá é que, conforme a geração que manteve o novo estilo envelhece, as pessoas param de se dedicar àquilo, o mercado desaquece e a gravadora começa a investir no que a nova geração quer ouvir.

No heavy metal, a situação é diferente. Não é incomum que um headbanger saiba tocar um instrumento, pesquise bandas de lugares remotos do mundo e busque conhecer as bandas que deram origem àquelas que ele tanto gosta. Não dá pra você ouvir black metal e aquilo só ser trilha sonora da sua academia por exemplo, aquela sonoridade cheia de ódio e mágoa acaba, inevitavelmente, provocando algo no ouvinte (nem que seja o completo repúdio). Apreciar um solo de guitarra é algo que envolve um momento de contemplação. Não é qualquer um que gosta de ouvir um minuto de demonstração de habilidade em um instrumento em praticamente todas as músicas. É impossível esgotar toda a qualidade que uma música de heavy metal pode demonstrar sem ter um conhecimento acumulado sobre o próprio estilo.

Talvez, tudo o que eu disse sobre o heavy metal se aplique a outros estilos musicais, não são só os headbangers que podem se orgulhar de serem fãs de uma banda por anos a fio. Mas temos o mérito de manter vivo um estilo musical rico e variado que parece que vai gerar bons frutos por muitas décadas!

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Raio X: Sad but True - Não somos os mestres de nós mesmos


Ei, eu sou sua vida
Sou aquele que o levou lá
Ei, eu sou a sua vida, sou o que se importa
Eles, Eles traem
Eu sou o seu único amigo verdadeiro agora
Eles, eles irão trair
Eu estarei sempre lá

Eu sou o seu sonho, faço-o real
Sou os seus olhos quando você precisa roubar
Sou sua dor quando você não pode sentir
Triste, mas é verdade.

Eu sou o seu sonho, mente perdida
Sou seus olhos enquanto você está distraído
Sou sua dor quando você rebate
Você sabe, é triste, mas é verdade

Você, você é a minha máscara
Você é a minha cobertura, meu casulo
Você, você é a minha máscara
Você é quem é culpado

Faça, faça meu trabalho
Faça meu trabalho sujo, bode expiatório
Faça, faça meus deveres
Para que só você se envergonhe.

Ódio, eu sou o seu ódio
Sou o seu ódio quando você quer amar
Pague, pague o preço
Pague por nada ser justo

Ei, eu sou sua vida
Fui eu que o trouxe aqui
Ei, eu sou a sua vida
E eu não me importo mais

Sou sua verdade, mentindo
Sou seus álibis racionais
Eu estou dentro, abra seus olhos
Eu sou você




Nessa semana analisaremos a letra de “Sad but True” do Metallica, uma das mais importantes bandas de heavy metal e uma das pioneiras do estilo nas Américas, além de ajudar a formar o Thrash Metal. O desafio de analisar uma música como a Sad but True é a sua falta de linearidade o que obriga uma fuga maior do universo da música.

A música trata de um dilema muito comum a qualquer pessoa que pare eventualmente para refletir. O que somos nós, individualmente falando? Essa pergunta é impossível de responder tendo base apenas com o conhecimento antes de Freud. O pensamento mais comum envolve coisas subjetivas, como alma, espírito, reencarnação, que varia da crença de cada um e que não serão discutidas aqui.

O conceito trazido pela psicanálise que há algo dentro da gente, da qual não temos controle e que, muitas vezes, controla nossas ações é um pouco mais complexo. Normalmente temos a sensação de sermos senhores de nós mesmos, quase como um ente superior que habita o nosso corpo e o utiliza a seu bel-prazer. Porém, há escolhas na nossa vida que, por mais que analisemos, não encontramos nossas verdadeiras motivações, algumas vezes até pensamos que seria melhor voltar no tempo e fazer diferente. O engraçado é que, mesmo assim, muitos de nós acabamos cometendo os mesmos erros no futuro.



O que fazer diante desse incontrolável eu? Quantas vezes não nos deparamos no nosso dia-a-dia com pessoas fazendo coisas que criticam, ou criticando coisas que fazem? Bem, caso você também se incomode com isso, comece olhando para dentro. Imagino que seja impossível controlar todos os nossos impulsos, mas isso não é desculpa para sermos incoerentes.

Voltando a letra da música, ela fala de um “eu” interior de uma forma nem um pouco animadora. Basicamente como se houvesse uma luta entre a nossa consciência e os nossos instintos. Pensando de uma forma mais darwinista, a hipótese da música faz todo sentido. Nós só estamos aqui hoje, porque todos os nossos ancestrais foram bons o suficiente em apenas duas coisas: sobreviver e procriar. Pensando que nossos impulsos irracionais, no fim das contas, são controlados por nossos genes, todos os genes que nos ajudaram a sobreviver e a procriar tiveram mais chances de se manter replicando. Os que nos ajudariam a ser bondosos, éticos, compreensíveis ou qualquer outra qualidade enfatizada nas diversas morais, não necessariamente resistem ao passar de milhares de anos.

Porém, há algo em nós humanos que quebra com essa lógica da seleção natural. No limite, somos a única espécie (na terra) que entendeu esse processo. Essa diferença nos deu, durante toda a história da civilização, a oportunidade de criar nossas próprias regras de convivência e comportamento. O processo evolutivo de milhões de anos confrontado pela vivência social nesses últimos milhares de anos, talvez tenha gerado essa disputa interna de uma parte consciente que é capaz de racionalizar nossas ações e outra que apenas faz o que a gente sempre fez, lutou pela nossa sobrevivência.

Poderia falar mais sobre esse tema, mas corro o risco de ficar muito maçante e de esgotar um tema muito complicado em apenas uma música. Sad but True é uma ótima música para refletirmos até que ponto escolhemos as coisas certas para nós mesmos e até que ponto somos mestres de nossa própria vida.

sábado, 17 de setembro de 2011

Review: Forevermore - O Bom e Velho Whitesnake.

Desde quando eu comecei a me interessar por música, sempre que me perguntavam “que tipo de música você gosta?”, eu respondia o clássico “Heavy Metal e Hard Rock”. Ainda bem que ninguém me perguntava “Mas qual é a diferença?”, porque a resposta nunca foi fácil para mim. É difícil delimitar aonde começa um e acaba outro, tanto que muitas vezes eles se misturam para fazer um ótimo espetáculo como deve ter sido Whitesnake e Judas Priest juntos! (pelo menos foi na ultima vez que vieram)



Infelizmente não pude ir neste ultimo show deles em São Paulo, pois o ingresso do show do Blind Guardian de Curitiba já estava comprado a mais de seis meses, mas ouvindo o CD novo “Forevermore” do Whitesnake só posso imaginar que tenha sido fantástico. É incrível a capacidade que eles têm de manter a sonoridade da banda intacta e fazer álbuns empolgantes por tanto tempo. Músicas como “Love Will Set You Free” e “Steal Your Heart Away” merecem estar naquelas coletâneas que volta e meia essas bandas lançam para cumprir contrato com a gravadora.

É admirável ver a coragem que os caras do Whitesnake têm para andar nessa corda bamba que é lançar CDs novos durante tanto tempo sem se reinventar. Os fãs de Hard Rock (e os de Heavy Metal também) são sempre muito exigentes em relação a sonoridade de suas bandas favoritas. Da mesma forma que é difícil mudar a sonoridade e manter o público antigo, manter as características clássicas sem parecer uma caricatura do ápice da banda não é nada fácil. Whitesnake conseguiu em Forevermore, os fãs agradecem.



Tentando responder a questão do primeiro parágrafo, a resposta é simples, não há divisão. Nos EUA e no Canadá é tudo Heavy Metal, assim fica bem mais fácil. Hard Rock é para mim, desde que eu vi aquele documentário “A Headbanger’s Journey”, mais uma boa vertente de heavy metal e vai ser assim que esse blog tratará essa questão.



quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Raio X: Electric Eye - não há nada que você possa fazer, ele está de olho


Aqui de cima no espaço
Eu estou olhando pra vocês
Os meus lasers traçam
Tudo o que vocês fazem

Vocês pensam que têm vida privada, não imaginam nada do tipo
Não há escapatória definitiva, eu estou observando todo o tempo

Eu sou feito de metal
Meus circuitos brilham
Eu sou perpétuo
Eu mantenho a pátria limpa

Eu fui eleito espião elétrico
Eu estou protegido, olho elétrico

Sempre em foco
Você não pode sentir o meu olhar
Eu dou um zoom em você
Você não sabe que eu estou lá

Eu tenho orgulho de sondar os seus movimentos secretos.
Minha retina sem lágrimas tiram fotos que podem provar.

Eu sou feito de metal
Meus circuitos brilham
Eu sou perpétuo
Eu mantenho a pátria limpa

Eu fui eleito espião elétrico
Eu estou protegido, olho elétrico

Olho elétrico, no céu, sinta o olhar, sempre lá

Não há nada que você possa fazer.
Desenvolvidos e expostos
Eu me sustento encima de todos os seus pensamentos
E então o meu poder aumenta.


No raio-x de hoje, vamos continuar no clima dos shows internacionais e falar de "Electric Eye" do Judas Priest! A importância do Judas para o metal é enorme, foi a primeira banda a não se ter dúvida se era heavy metal ou hard rock. Com mais de 35 anos de estrada, viram muitas bandas começar e acabar, mas o Judas Priest ainda tem muita lenha para queimar.

A Electric Eye segue uma linha bem característica do Judas Priest. Eles apresentam um monstro ou uma ameaça, algo para causar incômodo, para justificar a sonoridade pesada e agressiva de suas músicas. Mas a Electric Eye não é pura ficção, é também uma boa metáfora.

A música fala de um ser, que pode muito bem ser encarado como um monstro, uma máquina, ou um pouco dos dois. Ele foi criado para observar tudo o que fazemos detalhadamente. Aparentemente, isso é a única coisa que ele faz, o que não seria um grande problema se ele não contasse pra ninguém, mas, pelo menos, quem o criou deve ter acesso a essas informações.

Desde pequeno, de vez em quando, eu tenho a impressão de que alguém pode ver tudo o que estou fazendo e em que eu estou pensando. Essa impressão não se manifesta com freqüência, normalmente acontece em períodos de tédio, mais como algo para me distrair e viajar nas possibilidades, do que uma esquizofrenia (espero). A origem disso talvez seja que, na minha infância, essa pessoa que via tudo o que eu fazia e ouvia todos os meus pensamentos era Deus. Eu nunca tive nenhuma sensação de que alguém estivesse realmente me observando, mas é mais ou menos assim que as pessoas entendem um Deus pessoal, aquele que ouve todas as preces e julga todas as ações.

Parando para pensar, é um pouco assustador imaginar que alguém possa estar nos monitorando realmente. Pensando sociologicamente, a própria sociedade acaba cumprindo este papel. Não somos os mesmos em casa que na rua. Em casa nos preocupamos menos com as regras sociais banais, ficamos mais “à vontade”. O engraçado é que o julgamento das pessoas com as quais vivemos juntos afeta muito mais na nossa vida do que o julgamento das pessoas que passam pela gente quando vamos na padaria comprar pão, por exemplo. Dificilmente veremos aquelas pessoas de novo, mas não queremos que elas nos julguem mal, não queremos passar vergonha.

Agora imagine que uma pessoa, ou varias, pode ver tudo o que você faz, sempre. Esse é o medo invocado em Electric Eye. Este olho elétrico espião de metal com circuitos brilhantes não se contenta só em te observar, ele quer te expor, provar para quem quiser ver o que você fez. Ele sente prazer em te desmascarar, sente orgulho disso, ele quer manter a pátria limpa e ele faz isso tirando qualquer possibilidade de vida privada, de descanso mental, é uma tensão constante. É assustador.

Tudo isso me lembra muito o efeito causado quando eu li 1984 de George Orwell. Imagine ter uma câmera em todos os cômodos da sua casa e ao menor sinal de insatisfação você corre o risco de ser torturado e morto sem o menor critério. Eu, sinceramente, consideraria o suicídio uma boa opção (mas eu teria que planejar isso sem mudar minha expressão facial, se não seria preso antes por cometer um pensamento-crime).

Mesmo todos concordando que qualquer controle como esse descrito em Electric Eye é prejudicial, a sociedade cada vez mais vem seguindo o caminho do controle dos indivíduos. Nas grandes cidades é quase impossível sair de casa e não ser filmado várias vezes por câmeras de segurança. Muitas vezes se discute mais como ocupar o tempo livre do jovem para que ele não caia nas drogas, ou na criminalidade, do que como melhorar sua educação ou qualidade de vida. Temos satélites monitorando boa parte da superfície terrestre do planeta. Tudo isso acontece devido a uma mistura de medo e ganância.

Mesmo esse sentimento de insegurança, que justifica controlar a privacidade ou o tempo livre das pessoas, pode ser resultado da ganância de pessoas muito espertas. Ninguém acha estranho ter um programa que dura a tarde toda falando de violência urbana? Meu prédio, em quase 30 anos, nunca foi assaltado, mas agora tem suas câmeras na entrada, mesmo tendo um vigia durante toda a noite. A faculdade que eu cursei tinha várias câmeras para dentro do campus e nenhuma na entrada!

Esse clima de insegurança não só faz com que as pessoas gastem com sistema de alarmes caríssimos e de vigilância excessiva, mas também justifica medidas questionáveis de governos. Eu já ouvi gente dizer que gostava da ditadura por que tinha mais segurança. É o medo do terrorismo internacional que legitima os EUA invadir um país soberano que nunca o atacou. É melhor ficarmos espertos antes que abdiquemos da nossa liberdade em prol de uma proteção desproporcional.



segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Show do Blind Guardian em Curitiba em 50 Citações

1 – “Guerra é agora ou nunca, nós devemos nos manter unidos, um a um, o mundo é sagrado”

2 – “Você está perseguindo o crepúsculo e você sabe que ficará sozinho”

3 – “Ontem se foi, não há hoje nem amanhã

4 – “Ninguém vive para sempre”

5 – “‘Eu trago uma nova era de melhores caminhos’ o pregador da TV disse, apenas pague hoje, pague hoje!”

6 – “O mundo está vestido de preto no dia do julgamento da Terra”

7 –“Nascido em um salão de lamentações, as sombras deixaram o medo internalizado, o Peter Pan nunca alcançará o outro lado”

8 – “Obedeça, trabalhe duro e não sinta ódio, apenas simpatia pela alta classe”

9 – “Nascido em um salão de lamentações, gritos silenciosos calaram-se quando o berço quebrou, sonhos destruídos não foram ouvidos no outro lado"

10 – “Eu sou parte da máquina, uma marionete, fui um rebelde, mas agora sou apenas um velho”

11 – “Oh, eu sei que isto não pode continuar, mas o fantasma chamado medo interior aleija minha língua, meus nervos, minha mente”

12 – “Capturado dentro de uma teia chamada vida, a única forma de sair logo é o suicídio”

13 – “Toda esperança se foi, isso não pode ser desfeito, elas se foram para sempre”

14 – “Silenciosamente ele rastejou em novo horror, insanidade reinou, ele derramou o primeiro sangue quando o antigo rei foi assassinado”

15 – “Cai a noite, terras imortais padecem em agonia”



16 – “Quanto tempo devemos lamentar na escuridão? A alegria e a beleza não voltarão. Diga adeus para a tristeza e o sofrimento, embora longo e difícil o caminho possa ser”

17 – “As palavras do rei banido ‘eu juro vingança! ’ Cheio de ódio inflamou nossos corações. Cheio de dor, cheio de orgulho, nós gritamos por vingança”

18 – “Por que eu virei um rei dos perdidos? Estéril e sem vida a terra jaz”

19 – “Senhor de todos os Noldors, uma estrela na noite e inspiração de esperança, ele cavalga para sua batalha gloriosa sozinho. Adeus para o valente senhor da guerra”

20 – “Eu estou sozinho, ninguém ao meu lado. Eu te desafio, saia seu covarde! Agora sou eu ou Você”

21 – “Eu perdi minha batalha antes que começasse, meu primeiro respiro não aconteceu, meu espírito afundou no chão"

22 – “Nascido com um coração de rei, mas o destino me enganou e mudou as minhas cartas”

23 – “Eu nunca quis ser o que me disseram para ser, cumprido o meu desígnio e então serei livre. Deus sabe o quanto eu tentei mudar o destino”

24 – “Correndo e fugindo eu fui deixado para o tempo para trazer de volta a ordem divina”

25 – “Muitas batalhas nós levamos da guerra e muitos temores tivemos de sua lei”

26 – “Eu não entendi, ou falhei em ver que estou perdido, por que sou o escolhido.”

27 – “Há um para escravizar todos os anéis, para os encontrar a tempo e levá-los para escuridão. Para sempre estarão ligados”

28 – “Um anel para a mão do senhor das trevas, sentado no seu trono, numa terra tão escura onde eu tenho de ir.”

29 – “Sóis e anoitecer, há um clamor no ar ‘O de coração morre enquanto você está lá’”

30 – “Nós estaremos com você até o fim, venha mover nossos corações, nós sabemos que há vida após a morte”

31 – “Nós éramos os prisioneiros de nossa própria fantasia”

32 – “Valhalla, Libertação. Por que você sempre me esqueceu?”

33 – “Mas quando não tivemos nada, quem iria guiar as nossas vidas? Não, não, nós não podemos viver sem deuses.”

34 – “Enquanto o tempo passa rápido, passa por desastres, o barqueiro estará esperando por você, querida”

35 – “E quando houver silêncio, apenas uma voz do outro mundo como uma folha em um mundo congelado, memórias sumirão”


36 – “Irá a minha alma cansada encontrar descanso por um tempo? No momento de morte sorrirei”

37 – “Guerra é a única resposta quando o amor conquista o medo”

38 – “Com flores eles recepcionaram o antigo inimigo”

39 – “Os verei de novo? Ou será que todos eles morreram pela minha mão? Ou foram mortos pelo antigo espírito maligno que levou o oceano dos meus sonhos?”

40 – “Para fora da escuridão de volta à luz, então eu derrubarei as paredes ao redor do meu coração. Imaginações do outro lado”

41 – “Deixado no mundo, sem espaço para devaneios, vida adulta. Eu caio, eu caio em um buraco escuro e não consigo sair”

42 – “Eu não posso voltar, eu estou perdido mas eu ainda sei que existe um outro mundo”

43 – “Agora você saberá tudo sobre os bardos e suas músicas”

44 – “Amanhã nos levará embora, para longe de casa. Ninguém nunca saberá os nossos nomes, mas a música do bardo continuará”

45 – “Porque a música do bardo continuará, todas elas continuarão”

46 – “Nos meus pensamentos e nos meus sonhos, elas estão sempre em minha mente, essas músicas de hobbits, anões, homens e elfos. Venha, feche os seus olhos, você consegue vê-los também”

47 – “Refletido no espelho na parede, a verdadeira esperança está além da costa. Vocês são uma raça amaldiçoada, não vê que os ventos mudarão?”

48 – “Deverei eu deixar meus amigos sozinhos, escondido em meu salão do crepúsculo? Eu sei que o mundo está perdido em fogo.” 

49 – “Com certeza não tem como voltar para os dias antigos, de alegria e boas risadas. Nós estamos perdidos em terras estéreis, capturados em chamas, sozinhos”

50 – “Mesmo que a tempestade tenha acalmado, o fim amargo é apenas uma questão de tempo”

domingo, 11 de setembro de 2011

Review: Time is Up - Pesado Como Só o Heavy Metal Pode Ser

Talvez quem não esteja acostumado a ouvir heavy metal deve se perguntar sobre o que essas músicas falam? O que talvez seja difícil de entender é que nem toda música precisa ser sobre dilemas românticos ou como é bom ter muito dinheiro e fama. Uma das características mais marcantes do heavy metal é que não há limitação para as temáticas das letras. Só assim que temos a oportunidade de ouvir coisas tão sangrentas como em “Time is Up” do Havok.


Mesmo que as letras fossem totalmente diferentes, Time is Up continuaria sendo um dos melhores CDs lançados neste ano. O Havok é uma prova de que o heavy metal está longe de seu fim, é uma banda formada em 2004, mas que não deixa nada a desejar. Time is Up é porrada do começo ao fim,sem muita frescura. Um ótimo CD de Thrash Metal.

Nada combina mais com thrash metal do que letras sobre violência. Isso tem em abundância em Time is Up. “Cheiro de carne queimando, cheira muito real. Veja os mortos debaixo do aço” é o tipo de coisa que se espera ouvir de uma música pesada, assim como uma alta contagem de morte e litros de sangue são esperados de bons filmes de guerra. Só o metal pode fazer isso tão perfeitamente.


Muita gente gosta que a música fale sempre das mesmas coisas, que nas novelas todos se casem no final, que nos filmes o mocinho termine com a mocinha, que os programas de comédia sempre façam as mesmas piadas, que as notícias sempre falem de desgraça e corrupção, que a igreja pregue a mesma coisa por milhares de anos. Mas eu prefiro a variedade e nisso, o heavy metal nunca me decepcionou.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Show, o grande espetáculo da Música!



Estamos em um período movimentado para quem gosta de um bom heavy metal, nesse começo de setembro teremos shows por todo o Brasil da turnê do Judas Priest com o Whitesnake e da turnê do Blind Guardian. Ultimamente temos tidos bons shows aqui pelo Brasil. Só para citar as bandas que vi este ano: Helloween, Stratovarius, Primal Fear, Symphony X e Black Label Society. E ainda tiveram várias outras bandas importantes do cenário internacional.

Ir a shows é um grande evento. Às vezes não nos damos conta, mas são poucos os momentos de nossa vida que equivalem a ir a um show de uma banda que somos fãs. Ir a um show é muito mais do que ir a uma casa de eventos ver músicos tocando suas músicas ao vivo. Ir a um show é o momento que resume nossa ligação com a música, é o momento que nos esquecemos da rotina, é o momento que escutamos não só com os ouvidos, mas com o corpo todo.


É engraçado perceber que todos evitamos lugares cheios e quentes o máximo possível, mas pagamos valores altíssimos para tentar ficar na grade em um show com milhares de pessoas. Também é interessante ver que evitamos pegar fila sempre que possível, mas passamos um bom tempo em uma fila de show cantando, bebendo e conversando, quase como se fosse agradável passar tanto tempo em pé. 

Eu sempre me perguntei por que será que vale tanto a pena ir a um show? Só recentemente eu entendi. É só no show que eu me sinto pleno em relação ao meu principal hobby. É quase como se todo tempo que eu passo ouvindo coisas novas, comprando CDs, lendo reviews e matérias, fosse para aproveitar aquele momento. Em um show todos nos sentimos pequenos em relação ao poder da música e o que ela gera na gente. Somos esmagados, pisados, empurrados e assim nos sentimos iguais a toda aquela multidão que se reuniu ali para celebrar a festa da música.

Reparem como a empolgação das pessoas na pista durante um show parece com a empolgação de fanáticos em um culto religioso. Em um show  perdemos por um momento a nossa individualidade e nos misturamos àquela horda de pessoas gritando e cantando. As músicas que ouvimos em um show soam diferentes, parecem sempre melhor do que lembrávamos. Queremos cantar todas as músicas, ficar o mais perto possível, transformar aquelas 2 horas em lembrança para a vida toda.



É por tudo isso que devemos aproveitar ao máximo esses momentos. Não sabemos até quando essa bolha de eventos internacionais vai continuar. Bandas que antes fechavam grandes festivais pelo mundo, agora tocam em pequenas casas de show na Europa. A recessão econômica e a péssima adaptação da indústria fonográfica aos novos meios de comunicação estão ameaçando a viabilidade de viver de heavy metal. Temos sorte de bandas viajarem milhares de quilômetros para tocar para apenas mil pessoas em casas médias aqui no Brasil. Não sei até quando esse modelo de negócio que deixa os ingressos tão caros vão atrair público.

Então aproveitem bem, um bom show (ou shows) para todos vocês!