quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Heavy Metal Não É Só Mais Um



Creio que praticamente todo mundo que acessa o blog, gosta de heavy metal. Já pararam pra pensar o que faz o metal ser tão bom? Por que tantas pessoas simplesmente não conseguem gostar e acham que é tudo barulho igual? Por que um estilo que desde os anos 90 é considerado underground não parece estar em declínio? Não sou maluco de tentar responder tudo isso em um único post e acabar com o assunto no blog, mas há um aspecto que permeia tudo isso que vou falar hoje: a diversidade do heavy metal.

O heavy metal segue uma árvore genealógica que mistura muitos movimentos musicais, como o rock, o blues, a música clássica e, dependendo da imaginação do compositor, até jazz e músicas regionais. Se analisarmos historicamente não houve grandes rupturas no estilo. Os caras dos anos 70 se inspiravam nos caras dos 60, os caras dos anos 80 se inspiravam nas bandas de 70 e de 60, assim segue até hoje. Nunca houve um estilo que negasse a herança anterior.

Mesmo assim as diferenças entre um Metalcore, ou um Black metal comparados com as bandas fundadoras do estilo (Judas Priest, Black Sabbath etc.) são enormes, muito maiores do que a diferença entre os primeiros álbuns de heavy metal e o hard rock inglês, Além das diferenças marcantes em estilos mais contemporâneos. A mesma coisa não acontece em qualquer movimento musical. Eu não acho justo dar muitos exemplos aqui, porque o que eu realmente ouço é heavy metal. Mas, pensando em termos de nomenclatura, não sei de algum outro estilo musical que tenha criado tantos subgêneros como o heavy metal em apenas 40 anos.

Uma diferença marcante do heavy metal em relação a outros estilos é a sua liberdade temática. Não só não há nada de ideológico em ser headbanger, mas também há uma variedade de assuntos abordados que é inimaginável em outros estilos musicais. Você não vai ver por aí muitos estilos falando bem de religião, mal de religião, sexo, drogas, rock ’n’ roll, coisas liberais, coisas conservadoras, histórias de terror, auto-ajuda, histórias fantásticas, críticas a sociedade, coisas românticas e até músicas falando sobre piratas e duendes.



Acredito que essa liberdade é fundamental para entender a diversidade do heavy metal. Se eu quero falar de como é bom uma vida livre regada a álcool e rock, uma música mais solta, com riffs mais marcantes vai ser uma boa escolha. Se eu quero contar como um herói vai jogar as sete chaves nos sete mares para que o mundo não seja vendido pelo ouro de lúcifer, como previu o vidente antes de ficar cego (Se não entendeu, se mat... clique aqui), talvez compense mais fazer uma música grande, com momentos diferenciados e melodias épicas. Se, ao invés disso, eu preferir fazer uma música para criticar (algumas vezes até ofender) algum paradigma social muito internalizado (como religião, capitalismo ou preconceitos), talvez compense eu compor algo muito agressivo, que vá tocar no âmago do ouvinte de tão rápido e grave.

O interessante é que o processo não se dá aos saltos. As coisas se dão de forma gradual. O objetivo de uma composição, normalmente, não é passar alguma mensagem, mas sim fazer uma boa música. As especificações dos estilos se dão muito mais de uma forma experimental. A banda inventa uma pequena modificação para criar uma sonoridade um pouco mais em sintonia com a ideia da música, essa música pode eventualmente ter uma boa aceitação de um nicho e inspirar outra banda a incorporar essa nova sonoridade em suas músicas, mas esta também vai experimentar coisas novas. Passando-se um tempo, as experimentações bem-sucedidas sobrevivem e acaba dando cara a uma nova forma de se fazer heavy metal.

Por que será que isso não acontece tanto em outros estilos musicais contemporâneos? Como eu não sou grande conhecedor de tudo que se produz por aí, não vou generalizar. O que eu percebo é que muitos estilos não sobrevivem com o tempo e, mesmo alguns que se mantêm, não se reinventam da mesma forma que o metal. Coisas como a música Disco, Dance, Grunge etc., não são nem sombra do que já foram um dia. Um dos motivos, na minha opinião, que faz o heavy metal se manter independente das mudanças do mercado musical é o fato de seus fãs não se contentarem apenas com a superfície do produto oferecido pelas bandas, coisa que também deve acontecer em alguns outros estilos como a MPB, por exemplo. 



Em alguns estilos, parece-me, as pessoas querem ouvir mais do mesmo, as bandas vêm em enxurrada, totalmente monotemáticas, sem um grande aprofundamento da parte musical (a não ser que contrate um produtor que cuide disso), causam um grande alvoroço e depois caem no esquecimento. A impressão que dá é que, conforme a geração que manteve o novo estilo envelhece, as pessoas param de se dedicar àquilo, o mercado desaquece e a gravadora começa a investir no que a nova geração quer ouvir.

No heavy metal, a situação é diferente. Não é incomum que um headbanger saiba tocar um instrumento, pesquise bandas de lugares remotos do mundo e busque conhecer as bandas que deram origem àquelas que ele tanto gosta. Não dá pra você ouvir black metal e aquilo só ser trilha sonora da sua academia por exemplo, aquela sonoridade cheia de ódio e mágoa acaba, inevitavelmente, provocando algo no ouvinte (nem que seja o completo repúdio). Apreciar um solo de guitarra é algo que envolve um momento de contemplação. Não é qualquer um que gosta de ouvir um minuto de demonstração de habilidade em um instrumento em praticamente todas as músicas. É impossível esgotar toda a qualidade que uma música de heavy metal pode demonstrar sem ter um conhecimento acumulado sobre o próprio estilo.

Talvez, tudo o que eu disse sobre o heavy metal se aplique a outros estilos musicais, não são só os headbangers que podem se orgulhar de serem fãs de uma banda por anos a fio. Mas temos o mérito de manter vivo um estilo musical rico e variado que parece que vai gerar bons frutos por muitas décadas!

2 comentários:

  1. Olá, Vinicius. Gostei muito da sua reflexão porque eu venho pensando a mesma coisa há um tempo. O repúdio que as pessoa tem ao Heavy Metal como um todo e ao Rock N Roll, mas não parecem se preocupar nem um pouco com o apelo sexual e sensual feito por bandas de axé e forró. Eu simplesmente não entendo como alguém pode não gostar de algo que é tão marcante como um riff de guitarra ou uma virada de bateria... Esses dias tava brincando com meus amigos de voltar a música pra cada um escutar algo que lhe soasse importante como a mudança de um solo e foi tão divertido!!!
    Acho que o Metal é o estilo musical mais rico que conheci nos últimos tempos. Não é fácil aliar a uma base pesada música clássica como fizeram as bandas de melódico ou influências tribais como fez o Sepultura.

    =**, Jowzinha

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  2. Acho que o principal motivo pelo qual estilos musicais como o pop são pouco diversificados é a sua própria popularidade. Não são só fãs de pop que ouvem pop, todo mundo ouve pop: gente que curte sertanejo universitário, gente que curte mpb, até gente que curte rock. Assim, acredito que as produtoras desse gênero prefiram manter o velho "feijão com arroz" para não arriscar perder esse grande público. Já ouvi dizer que artistas como a Lady Gaga revolucionaram o mundo pop e, na minha opinião, ela continua fazendo o que a Madonna já fazia há 20 anos atrás... E da mesma maneira que várias outras artistas também o fazem. Seu sucesso, até onde entendo, provém do fato de ela ter criado uma personagem polêmica e adotado para si mesma, exagerando nas atitudes, roupas e artes corporais.

    O metal, por sua vez, nunca vai ser generalizado a esse ponto, porque nunca vai haver um público tão amplo que goste de metal. Assim, as produtoras e os artistas sabem do que seu público gosta e que tipo de inovações ele pode gostar. Lógico que no metal também há suas questões marketeiras, e o visual também importa e influencia, mas em grau consideravelmente menor. E não considero isso ruim. Para mim, o metal se mantém fiel a si mesmo, independente do subgênero, por ser underground. Se o metal, por alguma intervenção divina bizarra, se tornasse tão adorado quanto artistas como Britney Spears ou Kate Perry, acredito que logo essa grande diversidade começaria a se extinguir.

    Pelo menos é o que eu acho. Parabéns pelos ótimo textos, adoro seu blog :)

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