quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Profile: Tente falar "New Wave Of British Heavy Metal" três vezes rápido!


O New Wave of British of Heavy Metal (NWOBHM) é o evento mais importante da história do heavy metal, se ele não tivesse ocorrido, talvez o heavy metal não sobrevivesse os anos 80. Foi esse movimento que trouxe o heavy metal para mídia como um movimento, não como uma sonoridade experimental de algumas bandas. Poucas bandas conseguiram sobreviver até hoje com um sucesso expressivo, mas graças ao NWOBHM o metal proliferou pelo mundo.


Apesar de ser visto como um movimento espontâneo, independente da mídia e de desmandos de gravadoras, houve um jornal que foi determinante para a divulgação do movimento, o periódico se chamava “Sounds”. Esse jornal também foi responsável por cunhar pela primeira vez o termo NWOBHM. Mas, musicalmente falando, se alguém pode ser considerado responsável pelo movimento é o DJ Neal Kay, dono da Soundhouse, clube em que o Iron Maiden fez a sua primeira gravação. Kay foi mentor e incentivador de bandas como Iron Maiden, Saxon, Samson, Angel Witch e Praying Mants. Ele também começou a escrever para sounds artigos sobre as bandas do movimento.

Uma das primeiras bandas do movimento e a mais famosa é o Iron Maiden. Ainda no fim da década de 70 eles lançaram o “The Soundhouse Tapes”. O EP foi gravado de forma independente e sintetiza muito bem o espírito do movimento. Houve muita influência do Punk, a ideia do “Do it yourself” estava presente. O som era mais alto e agressivo do que os antecessores e a influência do blues já não era mais perceptível. Apesar de os músicos do Iron mostrarem ao longo do tempo que eram exímios músicos, nesse momento o importante era o entusiasmo. A sonoridade da banda na era Paul Di’Anno é bem diferente da sonoridade que a banda adotaria depois, mais leve e mais melódica.

O Iron Maiden (e também o Metallica) é, muitas vezes, a banda responsável pelo primeiro contato que as pessoas têm com o heavy metal e isso não é à toa. Além de eles terem sido pioneiros em um dos momentos mais importantes da história do metal, eles conseguiram sair do paradigma do começo dos anos 80 e passou todos esses anos produzindo um som de qualidade. Músicas como "Fear of the Dark" e "The Number of the Beast” estão marcadas na história do rock e são poucos que não as conhecem. A banda também incorporou elementos de História e Literatura em suas composições, abrindo um leque de possibilidades que posteriormente seria adotado por diversas bandas do gênero. A discografia da banda é grande e são muitas músicas ótimas. Além das duas músicas já citadas neste parágrafo, não deixe de ouvir "Holy Smoke" e "Wasted Years”, minhas músicas preferidas da banda.


Apesar do clube Soundhouse, o Iron Maiden e o periódico Sound serem de Londres, o NWOBHM foi um evento que ocorreu simultaneamente em toda Inglaterra. Uma banda da cidade de Sheffield que também ajudou a iniciar o movimento foi o Def Leppard. Eles começaram a fazer seus shows ainda em 1977 e conseguiram uma rápida notoriedade. Porém, quando, em 1980 lançaram seu primeiro disco, o “On Through the Night”, eles se desviaram da idéia do NWOBHM e adotaram uma sonoridade mais acessível, inspirada no hard rock nascente nos EUA. Por mais blasfêmico que isso possa ter parecido na época, foi dessa forma que a banda conseguiu se consagrar na história do rock, atingindo marcas impressionantes, inclusive uma marca no Guinness Book por ter tocado em três continentes em um único  dia! Ouçam "High’n Dry” e "Let’s Get Rocked" que vocês não vão se arrepender.

Outra banda que conseguiu se manter firme até a atualidade foi o Saxon. Entre 79 e 83 a banda lançou cinco álbuns com ótima crítica, sendo que quatro deles conseguiram boas colocações das listas inglesas. Em 1984 a banda lançou o álbum Crusader que, mesmo sendo considerado um dos melhores álbuns da banda, já mostrava uma “americanização” da sonoridade da banda. O NWOBHM foi cruel com as bandas que não souberam se atualizar, poucas tiveram fôlego para chegar aos anos 90 com alguma visibilidade. Talvez essa comercialização do som do Saxon (o mesmo para as mudanças do Iron Maiden e do Def Leppard) tenha sido crucial para o sucesso da banda que está firme e forte até hoje. Ouça "Rock City" e "Surviving Against the Odds”!


Uma das bandas desse movimento que mais influenciou o que viria posteriormente foi o Venom. Muitas vezes vistos como os pais do metal extremo, o Venom foi a primeira banda a usar temas satânicos com um papel de destaque em suas composições. O resultado disso é meio óbvio, aclamados por fãs de metal pesado, mas duramente criticados pela crítica, o Venom não conseguiu alcançar o mesmo patamar das outras bandas citadas aqui. Mas não é nada mal ficar marcado na história como a inspiração para o Black e o Death Metal! "Processed” e "Sadist” são minhas indicações.

Muitas bandas fizeram parte desse movimento que, temos que admitir, é datado. As bandas que realmente conseguiram superar o início dos anos 80 e deixar sua marca na história do rock foram aquelas que encontraram uma identidade própria ainda no começo da década. Apesar de breve, o NWOBHM influenciou praticamente tudo que foi produzido de heavy metal nos anos 80, do power metal até o black metal. Para quem quer entender melhor a sonoridade do movimento, a compilação New Wave of British Heavy Metal '79 Revisited é um CD bem legal, vale a pena!

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Raio X: The Land’s Revenge – A “Terra” dá voltas!


Olá leitores! Hoje quem “vos posta” sou eu, chamo Guilherme Euripedes, amigo do Vinícius de tempos inacabados e pedi espaço aqui no Filosofia Metal pra tirar um pouco do preto e acrescentar um pouco de verde nesse Heavy Metal aqui! Espero que gostem do post, reflitam e comentem sobre. Salute!

 

Eu me lembro quando este jogo começou há muito tempo atrás
Nossa relação era muito melhor do que é hoje
Antes havia muito respeito por ambas as partes do jogo
Agora parece que vocês esqueceram tudo isso.

Vocês têm ido muito longe sem olhar para trás
Vocês precisam se lembrar: sem mim suas vidas decairão

Eu pensei que vocês pudessem aprender com as coisas que se passaram
Eu estava esperançosa por uma estrada de beleza eterna
Agora é minha vez de lhe mostrar quão forte é minha vingança
Sem meu carinho e meu amor vocês cairão. Vocês vão ver.

Seria tão fácil para ambos se vivêssemos bem
E eu nunca lhe pedi muito – Nunca, Nunca...
Apenas pedi por atenção, união, amor e parceria
Vocês vêm matando partes de mim dia após dia

Rios, mares, lagos vocês têm sujado,
Madeira, árvores, animais vocês têm matado
Por que você não tira de mim apenas o que precisa?
Nossa existência seria maravilhosa meu amigo...

Esse é o último aviso que eu lhe dou:
Mude o modo que você age
Na terra eu estou.

Esse é o último aviso que eu lhe dou:
Mude o modo que você age
Na terra eu estou.





Quem de nós que nunca parou pra pensar sobre Sustentabilidade, futuro da humanidade na Terra e futuro da Terra com a humanidade que atire a primeira pedra.

Um dos assuntos TOP 3, ou mesmo TOP 1, das discussões políticas/econômicas mundiais é a questão do Desenvolvimento Sustentável, ou como hoje tem sido generalizado, Sustentabilidade.

Creio que uma introdução ao assunto seja desnecessária, já que se estão sendo capazes de ler este post num site da Internet, certamente em algum momento já foram de alguma forma inseridos a este assunto. Não saber que não só a Empresa X, mas o Mundo carece de um plano de Desenvolvimento Sustentável é como nunca ter ouvido falar dos famosos Beatles, ou de um homem menos famoso, Jesus.

Qualquer coisa pode ser considerada ou não “sustentável” e existem alguns fatores que conceituam algo como tal, o: economicamente viável, socialmente justo, culturalmente diverso e o ecologicamente correto. E é sobre este último principalmente que o Tuatha de Danann vem retratar com esta música.

Claramente “The Land’s Revenge” vem para dar um recado muito importante pela própria Mãe Natureza. Como mostrado nas últimas estrofes, se não mudarmos nosso jeito de agir, conheceremos de fato a “vingança da terra”.

Voltamos nossa atenção para temas como o Aquecimento Global, Camada de Ozônio e Efeito Estufa, problemas mais “palpáveis” e controversos, afinal muito cientistas afirmam que os ambientalistas, ONGs, Governos e outros cientistas estão exagerando quanto à grandiosidade do problema e, não suficiente, chegam a declarar que este é um problema pequeno comparado com o que o Planeta já passou. De fato é sim... O Planeta já passou por momentos mais difíceis, mas o que me assusta é como o Planeta vai resolver isto. Porque o problema não são os assuntos estudados, mas sim aqueles que estudam. O problema somos nós. Seres Humanos.

Não tiro a razão dos que dizem que o clima da Terra se move em ciclos e o aquecimento global é um fenômeno natural e normal. Mas outros problemas como a impermeabilização desprogramada do solo, despejo de dejetos químicos e tóxicos nos ar e na água, desmatamento acelerado, exacerbado e descontrolado, destruição de habitats naturais (consequentemente a dizimação da biodiversidade), derramamento de petróleo no mar... entre dezenas de outros problemas ambientais NÃO são naturais, portanto não são previstos pela Mãe Natureza, e assim ela não vai saber remediar.



Ouvindo a música e acompanhando sua voz, melodia e ritmo nos sentimos como transportados para as épocas onde o homem vivia ainda em clãs nômades, em perfeita comunhão com a natureza, tratando-a como deusa e respeitando suas necessidades. Mas com o constante progresso, principalmente após as Revoluções Industriais, vemos esse “jogo” saindo do equilíbrio e a corda sendo puxada mais forte por nós, seres humanos, juntamente com a música aumentando sua velocidade e deixando o clima mais pesado, como agora quando lemos as notícias na internet/jornal. Mas lembre-se, a corda sempre quebra do lado mais fraco, e acreditem, o lado mais fraco somos nós. Essa “mãe” não vai ter dó de expulsar o filho de casa por desobediência...

Acreditamos sermos não somente parte do mundo, mas chegamos notadamente ao ponto de agirmos como soberanos tiranos do planeta, escravizando outras formas de vida a nosso bel prazer, não somente para sobrevivermos. Insistimos em caçar animais por esporte ou em sua época de procriação, torturá-los para a doma ou para o entretenimento, arrancarmos sua pele ainda em vida, e acabamos com seu habitat natural, forçando-os a se adaptarem a viverem de formas adversas a sua natureza. Há poucos anos atrás condenávamos um homem que tratava uma outra etnia humana como animais, e hoje tratamos da mesma forma os próprios animais. O que antes era “Nazismo” hoje chamamos “Especismo”.

Será que estamos no caminho certo esquecendo nosso passado e negligenciando nosso futuro? Vendo pelo ponto de vista material ou espiritual, já passou da hora de voltarmos ao equilíbrio natural e rumarmos juntos com a Mãe por uma estrada bela e eterna. Sem ela com certeza decairemos mais ainda. O mundo dá voltas... a Terra há de se vingar.


Guilherme Euripedes tem um Blog chamado Live to Live For, que trata apenas de pensamento e poemas pessoais. Visitem! www.livetolivefor.blogspot.com



domingo, 27 de novembro de 2011

Review: Break the Silence - O CD no qual você pode cantar junto com os riffs!


O heavy metal é um estilo bem estigmatizado. Quem não o conhece muito bem, muitas vezes já imagina que é tudo meio barulhento e parecido. É muito comum alguém que não goste de rock não dar uma chance a uma banda se ela for de heavy metal, mesmo que essa banda faça um som bem acessível. Há, também, muito tempo que a música erudita saiu do cardápio da maioria das pessoas. Alguns poderiam dizer que esse tipo de sonoridade envelheceu. Claro que quem acredita nisso não ouve metal, muito menos Van Canto!



Van Canto é uma banda de Power Metal que usa o jeito “a capella” de se fazer música para causar um efeito épico foda. Graças a isso ficaram até que conhecidos devido aos ótimos covers de músicas de bandas de metal famosas. Mas, mesmo com toda essa peculiaridade, as músicas de composição própria são ótimas! Isso fica bem claro no CD da Banda o “Break the Silence”

O CD é uma mescla de covers e composições próprias. Acho que nos covers a falta da guitarra tira um pouco do peso das músicas, devido a isso as músicas mais leves combinam mais, como na Bed of Nails (melhor música do Alice Cooper, na minha opinião)  ou na Master of the Wind, que aliás ficou melhor que a versão original do Manowar e é uma das melhores músicas do Break the Silence. Mas a jóia do CD são as composições próprias. Pelo fato de ter vário bons vocalistas, eles podem criar diversas sonoridades que dão ao álbum um clima épico difícil de alcançar.



Entre Covers e músicas próprias, as recomendadas são a “If I Die in Battle”, a “Primo Victoria” e a “Neuer Wind”. Eu admito que tenho um defeito: dificilmente eu gosto de “baladinhas”, mas há exceções e normalmente envolvem um bom vocal, e não há banda melhor para eu abrir uma exceção do que o Van Canto com a sua “Spelles in Water”, foda. A banda não perde em nada por sua diferenciação, o que falta em peso, sobra em criatividade, Break the Silence é um CD que você não pode deixar de ouvir!

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Raio X: Face the Emptiness - A história acabou antes mesmo de começar


 

A história acabou
Está finalizada, acabada
O sonho que você teve
Desapareceu na neblina

Parado na frente
Das ruinas do que você construiu
Chocado até os ossos
E esmagado

Quando gigantes caem e anjos choram
Você sabe – É difícil salvar o dia

A última palavra já está dita e feita
A história acaba onde ela começa
Você tem que encarar o vazio
Não tem como argumentar
Não tem como modificar
Você sabe
É aí que a chuva cai

Não há dúvida que você está acabado
A história termina sem nem começar
Venha e encare o vazio
Não há como se esconder
Você não pode correr, tem de ficar
Parado e assistir
A chuva caindo

Quanto mais alto você coloca seus objetivos
Mais fundo você pode cair
Algumas vezes a vida
Simplesmente não é Justa

Você é um guerreiro incansável
Você se levanta quando cai
Mesmos se você
Não conseguir entender ainda

A última palavra já está dita e feita
A história acaba onde ela começa
Você tem que encarar o vazio
Não tem como argumentar
Não tem como modificar
Você sabe
É aí que a chuva cai

Não há dúvida que você está acabado
A história termina sem nem começar
Venha e encare o vazio
Não há como se esconder
Você não pode correr, tem de ficar
Parado e assistir
A chuva caindo



Já vou me desculpando antecipadamente pela letra depressiva, mas considero que a mensagem passada na "Face the Emptiness" do Primal Fear vale a pena ser ouvida. Esse tipo de mensagem mais pessimista (ou realista, como acredito) é raro no Power Metal, normalmente, em músicas mais reflexivas do estilo, ou as músicas fomentam um sentimento de revolta, ou tentam te mostrar um lado positivo de algum tipo de aflição.

Quando estava traduzindo esta música, pensei seriamente em usar a palavra “estória” no lugar de “histórica” já que no inglês há a diferenciação entre history (disciplina que estuda o passado) e story (conto), mas percebi que ele mistura esses dois conceitos durante a música, como na ótima frase repetida na série Battlestar Galactica: All this has happened before, and all of it will happen again (tudo isso já aconteceu antes e tudo isso vai acontecer de novo). A música é uma repetição da mesma ideia: “encare o vazio, a hi(e)stória acaba antes de começar”. Mas essa ideia não é tão simples e é muito carregada de significado.



A música já começa falando que a história acabou, que os sonhos se perderam, que as ruinas do seu passado te esmagam; a música não te deixa nem respirar e já vai jogando pessimismo em você. Mas, pare para pensar, você deve ter vários planos e sonhos para seu futuro, principalmente se você for jovem. Mesmo que você seja o tipo de pessoa que vive o presente intensamente e deixa para se preocupar com o futuro só no futuro, não há como não criar grandes expectativas para o dia de amanhã. Não importa em qual área da sua vida você deposite sua confiança, você acredita que algo de bom está reservado para você, que você merece. Mas, mesmo que todas essas coisas se realizem, elas nunca são como imaginávamos, mesmo que já esperássemos, os problemas que surgem decorrentes de um futuro de sucesso (não importa em que esfera da vida) nunca são 100% previstos. É como se a angústia que tentamos aliviar hoje fosse irremediável.

Se mesmo quando as coisas ocorrem da forma que esperávamos não consigamos nos livrar da angústia; quando elas não acontecem, ou pior, quando os nossos sonhos ocorrem do avesso, esse sentimento de angústia se apodera da nossa alma e começamos a procurar um sentido para essas dificuldades, uma explicação. Apesar de, eventualmente, essa angústia se transformar em patologias, com o tempo acabamos cometendo os mesmos erros e sofrendo as mesmas decepções.



Há um momento em que se percebe na música a linha de pensamento para sustentar toda essa amargura, é o trecho: “Quando gigantes caem e anjos choram / Você sabe – É difícil salvar o dia”. Sempre estamos tentando salvar o dia, nem que seja só o nosso; mas nos frustramos, afinal não somos gigantes, muito menos anjos. Mesmo que você decida se alienar dos problemas a sua volta, pelo menos os seus problemas acabam, eventualmente, te revoltando.

Uma vez eu passei por uma situação que exemplifica bem esse sentimento de revolta despropositada. Certa vez, enquanto eu navegava na internet, me deparei com a notícia que em represália a ataques terroristas, o governo israelense havia atacado a faixa de gaza e deixado 1300 mortos e mais de 5.000 feridos. Aquilo era inaceitável! Claramente um ato condenável. Pelas imagens reproduzidas na reportagem que eu lia, os alvos principais eram civis; que, aliás, já sofriam o suficiente por viver como refugiados dentro de sua própria terra. A sensação de que eu precisava fazer algo para mudar aquela situação me preencheu como nunca antes uma notícia sobre algo em outro país havia feito. E era importante que eu fizesse algo que realmente interferisse; mas, em poucos segundos, eu percebi que aquilo não me pertencia e que eu estava fadado a tentar conscientizar as pessoas próximas a mim dos horrores acontecidos naquela região.



O sentimento que veio quando eu caí na real, é parecido com o que a música te aconselha a encarar. Mesmo que haja uma consciência responsável pelos rumos que o universo toma, ninguém é capaz de compreendê-los. Você não pode deixar essa angústia de que algo está faltando escondida dentro de ilusões, pois assim você nunca aprenderá a lidar com ela. Os momentos de angústia têm que ser aproveitados, pois é quando você está realmente angustiado, que você tem coragem de refletir sobre as suas ações. Quando as coisas parecem dar certo, talvez você tenha a ilusão de que está seguindo um caminho seguro, ou que algo no universo está olhando por você e te protegendo da imperfeição da vida. Mas quando isso não se confirma, é difícil se reerguer e recomeçar depois de toda a decepção.

Uma técnica legal que os caras usaram na letra para te causar estranhamento é escrever a letra falando direto com o interlocutor, toda música passa a mensagem para “você”, enquanto normalmente em questões mais abrangentes e determinantes o normal é falar para “nós”. Aparentemente o objetivo é chamar para reflexão, e eu também tentei usar essa técnica nesse texto, espero que não tenha sido muita pretensão.

Se aprendermos (agora parei de falar só de você) a lidar com a angústia, a encarar o vazio de nossa alma, entender que ele é parte estrutural de nossa mente; talvez consigamos traçar caminhos mais inusitados para a nós, formas mais realistas de enfrentar as dificuldades. Mesmo nos momentos de euforia, aprender a evitar as ilusões, evitar esconder a angústia no nosso subconsciente, talvez nos prepare para quando tivermos que cair na real.


terça-feira, 22 de novembro de 2011

Storyteller: Blind Guardian – Bard’s Song

 

Olá leitor, quem escreve é Bruno Almeida, sou amigo do Vinicius há tanto tempo quanto posso lembrar, estou escrevendo meu primeiro texto no seu blog e espero que todos gostem. Na realidade proponho mais que um texto, quero criar uma experiência. Gosto muito de escrita artística, criar contos e coisas assim, e essa será minha contribuição ao blog. Mais uma vez, espero que gostem.

bard

O alvoroço era constante e as pessoas se amontoavam ao redor de mesas, havia todo tipo delas, dos lugares mais longínquos: homens do sul, do norte, pessoas que não sei dizer bem ao certo da onde eram. Já estava ali há algum tempo e encostado em um canto da bancada apenas observava; pessoas em cima da mesa, com canecos levantados ao alto, entoando canções de suas regiões; homens gritando e simulando o que seria um abate de um grande animal; pessoas se empurrando, se estranhando, rindo e bebendo. Até que aconteceu. Ao meu lado ele passou ainda tímido, me pediu licença com sua mão e atravessou todo aquele mar de gente em direção ao que seria um protótipo, mal acabado, de um palanque.

O homem subiu na estrutura e sentou em uma cadeira que estava a aguardar por ele. O salão se calou ao vislumbrar sua presença. Lentamente o tumulto se tornou um murmúrio, para então se calar secamente e o único ruído que restara era o vento frio do inverno que assobiava nas janelas. O homem retirou seu instrumento de corda de uma mochila de couro. Olhou atentamente ao rosto de cada um, posicionou suas mãos e então começou sua canção.

Introdução violão

Agora todos irão conhecer
Os bardos e suas canções
Quando as horas se passarem
Eu fecharei meus olhos
Em um mundo distante
Nós poderemos nos encontrar novamente
Mas agora ouça minha canção
Sobre o surgimento da noite
Vamos cantar a canção dos bardos

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A música falava de heróis do passado. Heróis que viveram as mais revoltas aventuras, em lugares tão gélidos quanto as montanhas do sul, até lugares tão áridos quanto os desertos do oeste. Ascendia os espíritos dos corajosos heróis, nos lembrava dos seus grandes sacrifícios, das batalhas mortais e dos dolorosos fardos. Os heróis se foram, mas seus feitos ficaram imortalizados nas canções dos bardos.

Não sabemos o nome daquele que canta e nem ele quer que saibamos. Não se atente aos detalhes, não o julgue e não pergunte, apenas ouça e viaje em seus contos. Seus mitos não foram escritos e jamais serão, suas parábolas devem ser entoadas por aqueles que revivem os momentos através da música. Portanto, apenas ouça.

solo violão

Existe apenas uma canção
que está em minha mente
Contos de homens corajosos
Que viveram longe daqui
Agora as canções dos bardos terminaram
E é tempo de partir
Ninguém te perguntará pelo nome
Daquele
Que conta a história

O amanhã nos levará para longe
Distante de casa
Ninguém nunca sequer saberá nossos nomes
Mas as canções dos Bardos vão permanecer
Amanhã tudo será conhecido
E você não está sozinho
Então não tenha medo
No escuro e no frio
Porque as canções dos Bardos irão permanecer
Todas elas irão permanecer

Se de súbito a música começou, inesperadamente também terminou. As notas ressoavam ainda na madeira velha que estava em todo lado, um espírito da música continuara mesmo após seu fim. Os olhos ainda atentos de seus ouvintes imploravam por mais alguns acordes, mas eu entendo por que a música teve de cessar, eu ainda quero aquelas fábulas e jamais as esquecerei, pois eu sei... Sei que queria viver aquelas histórias.

Em meus pensamentos e em meus sonhos
Estão sempre em minha mente
Aquelas canções de hobbits, anões e homens
e elfos
Venha, feche seus olhos
Você pode vê-las também

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domingo, 20 de novembro de 2011

Review: Animal - Ah ... o nome já diz tudo!


Duas das bandas mais importantes para definir o que é o “rock pesado” foram o Deep Purple e o Led Zeppelin. Graças à mistura que fizeram com o rock, blues, rock progressivo e ainda distorcendo mais suas guitarras, mudaram a história da música para sempre. Muitas bandas seguiram essa linha, algumas pegaram apenas alguns elementos, outras adotaram o pacote completo e tudo isso sempre soou muito bem. Aqui no Brasil a banda que melhor segue essa linha de misturar hard rock, metal, blues e progressivo é o Dr. Sin, imagino que sejam unanimidade nesse quesito. O novo CD deles intitulado “Animal” faz jus a essa fama.



Mesmo tendo essa sonoridade ligada ao rock clássico, em seus 20 anos de carreira a banda variou muito sua sonoridade. Não é fácil, ainda mais aqui no Brasil, uma banda se manter com o status desses caras por tanto tempo. Bandas como Angra e Sepultura, referências do nosso metal, passam por momentos conturbados ultimamente. Mas o Dr. Sin, como sempre, continua lançando bons álbuns, um atrás do outro. Talvez pela variação e mistura de estilos eles não tenham tido seu momento “Big Shot”. Mas é raro ver uma banda tão respeitada, ainda mais em um país que não tem uma cultura de rock tão forte quanto na Europa ou nos EUA.

Falando mais especificamente do Animal, o CD é exatamente o que o seu título indica, é animal! É muito legal como eles conseguem misturar em um único riff, diversas ideias. É difícil definir se algumas músicas são metal ou hard rock. É um CD repleto de músicas rápidas e com muito ritmo, não dá pra ouvir o início das músicas sem ser cativado pelos riffs. Animal também tem suas baladas e mesmo nas músicas rapinas e curtas eles, muitas vezes, mantém o elemento progressivo, característico da banda.



Eu gostei de muitas músicas desse CD, esse tipo de música na fronteira entre heavy metal e hard rock sempre me cativou. Eu destaco aqui a “Faster than a Bullet” e a “Lady Lust”. Animal também tem (pelo menos) duas músicas bem peculiares. A “The King” é a melhor homenagem que o Dio poderia receber e é uma pena que ele não esteja vivo para ouvi-la. Poucas pessoas podem ter uma obra tão bela em sua homenagem. Já a “May The Force Be With You” foi uma decepção, pois, na minha opinião, ela destoa um pouco do álbum. Uma pena que o casamento entre Dr. Sin e Star Wars não rendeu todo seu potencial. Mas a sensação que fica, é que 2011 é realmente um ótimo ano para o heavy metal tupiniquim!


sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Universo Headbanger: A temida e implacável Morte

Atenção: Esse post é melhor apreciado ao som de Morbid Angel e de Black Sabbath.

O desenvolvimento científico e a consequente apropriação da Natureza mudaram a nossa relação com o conhecimento. Vários mistérios receberam respostas elegantes e lógicas. Hoje temos boas teorias científicas para questões polêmicas como a origem do universo, as forças que regem o movimento, a origem das espécies, o funcionamento fisiológico de nossos corpos etc. Esse tipo de conquista acabou gerando uma sociedade, principalmente no ocidente, mais materialista. Não confunda com aquele materialismo pejorativo no qual a pessoa valoriza mais os objetos do que as outras pessoas, o materialismo que falo aqui é o filosófico, no qual se compreende que tudo que existe é formado por matéria ou reduzível a processos de natureza material. Com essa visão mais materialista do mundo, um problema fica em aberto dentro do imaginário social: O que acontece depois da morte?

Ainda há, é claro, as explicações religiosas. Porém, a partir do momento que a ciência é a moeda de troca do conhecimento em nossa época e as instituições religiosas vão se relativizando e se adaptando a novos paradigmas, as nossas crenças subjetivas e espirituais garantem cada vez menos conforto. Nesse contexto, vai ser no espaço da morte que residirá nossas grandes dúvidas e, consequentemente, nossos grandes medos.



Esse espaço não poderia ser preenchido se não pela arte, inclusive, o heavy metal. O heavy Metal, no geral, se comunica através do choque, do conflito. Mesmo uma banda mais reflexiva vai usar elementos de conflito para atrair a atenção de seus ouvintes. Relacionar o tema da morte nas músicas vai se mostrar como um ótimo atrativo para a mensagem que a banda quer passar. A forma como a morte é apropriada pelo heavy metal varia e se confunde com as formas que a morte é apropriada na nossa vida e em nossa cultura.

Na antiguidade a morte era tratada mitologicamente de forma muito mais tranquila do que hoje. Na mitologia grega a morte do herói era também o ápice de sua vida. Era em seu momento de morte que ele alcançava o seu limite. Isso acabava tornando a morte também como uma ferramenta de autoconhecimento, pois e só na morte que o personagem cumpria (e conhecia) todo o seu potencial. Em algumas culturas a morte heroica é vista como uma forma de salvação. Na mitologia nórdica, por exemplo, o dia da sua morte já é predeterminado, porém, caso o viking morresse em batalha, ele iria para Valhalla, terra onde Odin reunia seu exército para a guerra do fim do mundo (ragnarok), lá seria um lugar onde os guerreiros passariam a vida lutando e bebendo esperando alegremente a última batalha. Já os que morressem de morte natural ou acidental (menos em naufrágios) iriam para o Hel que era uma terra melancólica onde os espíritos vagavam por toda a eternidade. Outra cultura que valoriza a morte heroica é o islã, onde, caso o fiel entregue a sua vida a Alá, ele garante o seu lugar no paraíso.

A morte heroica é uma das mais presentes no metal, principalmente nos estilos da família do power metal. Não tem forma melhor de dizer que a história foi dramática e que o sacrifício do protagonista foi enorme do que matando ele no fim, ou pelo menos deixando claro que a morte é o risco. A "Keeper of the Seven Keys" do Helloween é emblemática nesse sentido. Ela segue um ritmo de certa forma contínuo e rápido, até que chega no trecho em que Michael Kiske canta (grita):“Throw the key or you may die!” e o solo que segue é a parte mais melancólica da música. É importante dar ênfase que a jornada do guardião é mortal, é isso que faz grandes clássicos de músicas como essa.



Mesmo no início do cristianismo a morte era tratada apenas como uma passagem. A ideia de céu e inferno e da infinita misericórdia divina davam um aspecto natural ao falecimento. Porém, com a peste negra, a relação da morte com o desconhecido se intensificou. Um período onde um terço dos europeus morreu devido há uma doença desconhecida causou uma profunda ferida no inconsciente coletivo cristão. Desde então o medo da morte se intensificou na cultura ocidental. Com o renascimento e, posteriormente, com o desencantamento do mundo, esse medo teve o acréscimo da incerteza. Não mais vemos o paraíso como um lugar físico. Já viajamos pelo céu e sabemos que ele não está lá. Mesmo a religião cristã se mantendo forte até hoje, as vertentes protestantes tiraram o aspecto “mágico” que a religião tinha até então, fazendo com que as indulgências e a prática ritual não fossem mais garantias de salvação. Dentro da visão calvinista, por exemplo, não cabia ao indivíduo a sua própria salvação, mas sim a Deus. Nessa visão, Deus já havia escolhido, no momento da criação, as almas a serem salvas. A única “dica” que as pessoas teriam sobre o seu próprio salvamento seria a sua conduta, o fiel deveria viver como que se estivesse de passagem no mundo material, abnegando os prazeres e vivendo apenas para glorificar a Deus. Essa relação conflituosa com a morte e com a vida após a morte cria essa sensação terrível de incerteza.



Esse medo da morte é muito bem explorado no heavy metal. Como o estilo começou contando histórias ocultistas e de terror, a morte nesse sentido está presente em diversas vertentes do estilo. Uma música que explora muito bem o sentimento da peste negra é a "Plague and Fyre" da banda Hell. Uma música mais famosa que representa esse medo da morte é a "Raining Blood" do Slayer que fala de um juízo final duro e terrível. A força da música está na representação da espera tortuosa pelo juízo final no purgatório, uma clara ironia a benevolência das crenças cristãs.

O heavy metal tem uma estética muito ligada à força e ao poder. Em relação à morte não poderia ser diferente. As bandas mais pesadas normalmente tratam a morte como algo superável, ou controlável. Acho que não há melhor exemplo do que a "Stronger than Death" do Black Label Society que é uma análise bem peculiar da morte, tratando-a de uma forma bem fria e realista. Há também a apropriação do inferno como símbolo de força, como na "Welcome to Hell" do Venom. A simbologia da morte está também muito presente, como na adoção da personificação da morte como mascote pelo Children of Bodom ou o próprio morto-vivo Eddie, mascote do Iron Maiden.



A simbologia da morte é muito rica nas artes. A morte é a prova que estamos vivos e a vida é a prova que vamos morrer. O Mito grego de Sísifo é muito interessante para pensarmos simbolicamente a relação entre a morte e a vida. Sísifo era um cara muito esperto que conseguia tudo na lábia, era tão bom que acabou enganando até os deuses. Sísifo contou a Asopo, deus dos rios, que Zeus havia sequestrado sua filha Egina. Zeus ficou furioso e mandou Tanatos, deus da morte, perseguir Sísifo. Porém Sísifo prendeu Tanatos impedindo que as pessoas pudessem morrer. Ares então interviu e libertou Tanátos. Sísifo viu que não tinha como escapar e então pediu a sua esposa que não executasse os rituais funerários. Chegando ao mundo dos mortos, Sísifo se queixou a Hades da falta de consideração de sua esposa por não ter efetuado os rituais e solicitou permissão para que voltasse ao mundo dos vivos apenas para castiga-la. Hades aceitou e Sísifo não voltou ao mundo dos mortos até que morreu de velhice. Quando voltou Hades o condenou a empurrar uma pedra até o cume de um monte, caindo a pedra invariavelmente da montanha sempre que o topo era atingido. Esse processo foi repetido até a eternidade.



O mito de Sísifo é sujeito a diversas interpretações. A que eu mais gosto é que Sísifo viveu a sua vida toda com medo da morte e isso fez com que vivesse apenas lutando para evitar o fim. O seu maior anseio era viver eternamente, porém esse foi o seu próprio castigo. A ideia de carregar a pedra até o topo do morro pela eternidade pode ser encarada como uma metáfora para a vida. A vida é um constante carregar a pedra acima do morro, porém nunca conseguimos chegar até lá, o ideal seria que o nosso processo de carregar a pedra seja suficiente em si mesmo. Se esperarmos que a nossa vida só valha a pena quando a pedra estiver parada no topo, então nunca nos realizaremos, pois a morte chegará antes. Sísifo é um elogio a vida sem sentido. Ele é um dos poucos personagens da mitologia grega sem um objetivo definido, o seu único objetivo era viver, e ele acabou, ironicamente, conseguindo. Devemos sempre encarar a morte, pois é essa limitação que nos move, se tivéssemos certeza que viveríamos para sempre, jamais teríamos coragem de carregar as nossas pedras.


quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Raio X: Yesterday Don't Mean Shit - Porque amanhã é o dia que temos que encarar



Não há nada especial nisso
Isso existe quer você nasça ou não
Pessoas dotadas com talento não são grande coisa
Bem-vindo à morte de um século.

Porque o ontem não significa nada
O que aconteceu, aconteceu e não há nada no meio
Ontem não significa nada
Porque o amanhã é o dia que você tem que encarar
Não há como voltar ao passado
Ontem não significa nada
Ontem não significa nada

Reviver velhas avaliações
É uma ferramenta inútil de confusão
Não prenda sua respiração para se virar
Entre no mundo de possibilidades infinitas

Porque o ontem não significa nada
O que aconteceu, aconteceu e não há nada no meio
Ontem não significa nada
Porque o amanhã é o dia que você tem que encarar
Não há como voltar ao passado
Ontem não significa nada
Ontem não significa nada

Eles irão te falar sobre culpa
E na hora certa você enfrentará a escuridão
Mas a escuridão é uma amiga para você
Abrace e voe através da loucura
Voando passados Deus, guerras e conflitos
O opressor em você
Arando pelas mentes e paranoia
O opressor em você
O opressor está em você

Porque o ontem não significa nada
O que aconteceu, aconteceu e não há nada no meio
Ontem não significa nada
Porque o amanhã é o dia que você tem que encarar
Não há como voltar ao passado
Ontem não significa nada
Ontem não significa nada

Ontem não significa porra nenhuma

Para te proteger e eu guardarei pra mim mesmo
É assim que tem que ser!



O Raio X de hoje é de uma música que vai mais direta ao ponto do que de costume. Como uma boa música de thrash metal, a melhor forma de passar uma ideia é mostrar claramente o que você pensa sobre o assunto, sem muitos rodeios. A significação do passado é o alvo da “Yesterday Don’t Mean Shit” do Pantera.

A tese da música é clara: O passado não importa, o que realmente importa é como você vive o “hoje”. Não acho que a intenção seja o esquecimento completo do passado, mas sim a sua superação. A impressão que a música passa é que o passado não deve ser um peso na hora de lidar com o presente, quando erramos temos que ser fortes o suficiente para não deixar esses erros influenciarem negativamente nossas decisões.

Acho que o auge da música é o trecho: “Ontem não significa nada porque o amanhã é o dia que você tem que encarar”. A ideia, apesar de simples, carrega um conselho muito difícil de ser seguido. Muitas vezes agimos de forma errada, ou, pelo menos, contra nossa vontade, para concertar equívocos do passado. Deixamos de ser e fazer o que queremos pelo que éramos e acreditávamos anteriormente. Algumas vezes é difícil aceitar as mudanças, é difícil perceber que as nossas antigas convicções não mais fazem sentido e que não nos tornamos quem nós projetamos.

Tente se lembrar de como você era há 10 anos, você se reconheceria hoje? Esse seu “eu” do passado se orgulharia do que você se tornou? Ele concordaria com suas crenças atuais, com suas visões de mundo, com sua rotina e com todo o resto que faz você querer sair da cama e enfrentar um novo dia? Acredito que a mensagem da música é que isso não importa mais, porque nós mudamos e isso é bom.



Quem leu o livro 1984 de George Orwell (se ainda não leu, você não sabe o que está perdendo!) deve se lembrar da visão do personagem O’Brien da realidade (que resumia a visão do partido único opressor): A realidade só existe no espírito e em nenhuma outra parte. O personagem questiona Winston, protagonista do livro, se o passado existe em algum lugar, se ele está acontecendo paralelamente ao presente. A conclusão de Winston é que o passado existe apenas nos registros e na memória das pessoas. Porém, a partir disso, O’Brien mostra que o passado não é algo fixo, considerando que o partido controla os registros e que a mente individual é falha.

Essa referência ajuda a reforçar a relativização que a “Yesterday don’t Mean Shit” faz do passado. O passado não é uma “coisa”, ele não é algo que existe fora da gente. Se um vírus surgisse e acabasse com a vida na terra, nada do que aconteceu antes teria a menor importância para o resto do universo (a não ser que outros seres inteligentes resolvessem estudar nossa história). O que a gente faz e as coisas que acontecem desaparecem no exato instante seguinte, a não ser que fique registrado na memória de alguém, ou em alguma outra forma de registro. Filosoficamente falando, os nossos fantasmas do passado só nos assombram porque nós permitimos, o que passou não tem existência necessária, essas coisas só influenciam o presente se alguém não for capaz de esquecê-las.



Claro que esse tipo de visão é muito polarizada. Não é porque o passado pode ser esquecido que ele deva ser esquecido. O passado pode ter uma função parecida do mito, no sentido de nos dar exemplos, de nos fazer refletir sobre o presente. Quando o mito diz que Eva e Adão comeram do fruto proibido e que, graças a isso, Jeová expulsou o casal primordial do Jardim do Éden, a importância não é explicar literalmente o passado, mas ajudar a entender o presente. Essa história não teria valor nenhum se não fosse pela sua simbologia, ela ajuda a entender o pecado, a relação entre o homem e a mulher, a questão do conhecimento, do prazer e de várias coisas a partir da visão bíblica.

No mundo menos espiritual que vivemos hoje em dia, muitas vezes os mitos místicos não conseguem mais nos servir como guia para avaliar o presente e a história materialista acaba cumprindo essa função. Experimente tentar ver um personagem icônico como Hitler de uma forma menos polarizada e veja a reação das pessoas. Muitas delas não irão aceitar com facilidade. Um personagem demonizado como Hitler é importante para reforçar certos valores atuais, o valor de ainda sabermos quem ele era e o que ele fez não é apenas o mero registro. O que importa é que ele acabou se tornando, no imaginário coletivo, uma personificação dos erros da civilização no século XX. A trajetória dele e do nazismo mostrou para onde o racionalismo impessoal e a supervalorização do progresso técnico-científico pode nos levar se não houver uma maior reflexão crítica desses processos.



É claro que isso é só a minha visão e que a música em si valoriza muito mais o hoje do que eu, particularmente. Na tradução dessa letra no Whiplash, o tradutor diz que essa música foi uma resposta aos críticos que insistiam em lembrar do início glam metal da banda. Caso isso seja verdade, a mensagem é clara: você deve avaliar a qualidade de algo baseado apenas nele, não deve deixar os preconceitos ofuscar a verdadeira essência do presente. Não é porque o Sol nasce todos os dias no horizonte que ele vai continuar nascendo para sempre, e nada impede que a aurora de amanhã seja a mais bela de todas.


segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Profile: Heavy Metal - A Origem

Hoje vamos falar do começo do heavy metal. É sempre muito difícil definir quando algo começa e termina na arte, acaba sendo sempre uma questão de convenção no fim das contas. Ainda no fim dos anos 60 houve uma mudança forte de perspectiva no Rock and Roll. Como já visto no profile anterior, alguns atribuem o inicio do Hard Rock ao primeiro disco da banda Blue Cheer. Em uma pesquisa rápida pela internet, você verá que eles também são considerados por alguns como o começo do heavy metal, mas, para a história, o disco homônimo de estreia do Black Sabbath é considerado pela maioria como o primeiro disco do estilo.



Claro que, se comparado com o rock produzido na Inglaterra nessa época, o Black Sabbath estava inserido dentro do Hard Rock nascente, não havia uma ruptura clara ainda nessa época. Mas o que fez o Álbum se diferenciar do resto e, visto posteriormente, ser atribuído como fundador do heavy metal, foi o seu distanciamento do clima lúdico tão característico do Rock and Roll ate então. Quando ouvimos as bandas do fim dos anos 60 e do começo dos anos 70, não encontramos o clima ocultista do Black Sabbath. Foi com Ozzy Osbourne (Vocal), Tommy Iommi (Guitarra), Geezer Butler (Baixo) e Bill Ward (Bateria) que o Rock começou a assumir de vez esse lado “preto” em oposição a toda psicodelia vigente. A idéia dos caras era fazer um som de terror, inspirados nos filmes e na literatura do estilo.

Com o passar dos anos 70, o Black Sabbath continuou sua forte caminhada para se tornar uma das mais importantes bandas de Rock da história. O segundo disco da banda foi o “Paranoid” que foi um grande sucesso de público e crítica. “Sabbath Bloody Sabbath” e “Sabotage” também marcaram a história dos anos 70 na música pesada. Apesar de grandes músicas compostas e diversos prêmios, a banda viveu tempos de altos e baixos devido, principalmente, ao abuso de drogas. No fim dos anos 70, a banda decidiu despedir Ozzy por pressão de gravadora e por sua falta de comprometimento. Em seu lugar foi contratado Ronnie James Dio que influenciou muito na sonoridade da banda graças a sua visão peculiar de composição e sua capacidade de criar linhas de vocal mais complexas. Foi nesse contexto que a banda lançou Heaven and Hell, um dos CDs mais bem sucedidos da carreira da banda. A história do Black Sabbath vai longe e recentemente foi anunciada a reunião dos integrantes originais para o lançamento de mais um CD, a torcida fica para que o legado continue! Músicas que eu gosto muito dos caras são a "Iron Man" e a "Heaven and Hell"



Apesar de a banda considerada como fundadora do heavy metal ser o Black Sabbath, foi o Judas Priest a primeira banda a definir o que separava realmente o heavy metal do hard rock dos anos 70. A grande importância do Judas Priest foi a superação da sonoridade mais puxada para o blues que o rock pesado tinha até então. Eles conseguiram reunir as inovações de bandas como Black Sabbath, Led Zeppelin, Deep purple e unir com elementos próprios como o vocal mais agressivo de Rob Halford e a utilização de duas guitarras. Mesmo muito do heavy metal já estar no Black Sabbath, Judas é a primeira banda que é definitivamente heavy metal. Apesar de toda essa inovação, o sucesso maior da banda viria nos anos 80 devido ao New Wave of British Heavy Metal, que deixou o estilo mais em evidência. Judas Priest é uma banda que sempre soube se reinventar e tem diversos álbuns ótimos por toda a sua carreira. Minhas recomendações são "All Guns Blazing" e "Death Row".



Enquanto Judas Priest Foi importante para distinguir o heavy metal do hard rock dos anos 70, no final desta década, o Motörhead trouxe novos paradigmas que guiariam o estilo nos anos 80. Com forte influência do Punk, A banda fazia um som que alguns chegam a definir como o início do thrash metal e do speed metal. Além disso, a sonoridade Punk da banda acabaria influenciando bandas do NWOBH que beberam muito nessa fonte. "Ace of Spades" e "Iron Fist" são músicas que tem que estar no repertório de qualquer fã de metal!

Os anos 70 não foram tão generosos para as bandas de heavy metal quanto foram os anos 80. Mas foi nessa época que o estilo nasceu, mesmo sendo sustentado por apenas alguns grupos isolados. Vai ser na década seguinte que o heavy metal vai ter o grande boom criativo. Várias outras bandas de hard rock tinham suas músicas que se confundiam com o heavy metal nessa época, o que deixava o estilo um pouco na aba do hard rock, uma ovelha negra. Mesmo assim muita coisa boa foi produzida e é sempre bom voltar às origens.