sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Raio X: Balls to the Walls - "Eles te farão beber o próprio sangue"




Tantos escravos neste mundo
Morrem por tortura e dor
Tantas pessoas não enxergam
Eles estão se mantando, enlouquecendo.

Tantas pessoas não sabem
Escravidão está sobre a raça humana
Eles acreditam que escravos sempre perdem
E este medo os mantém submissos

Cuidado com os condenados – Deus os abençoe
Eles vão quebrar as correntes
Não, você não pode detê-los – Deus os abençoe
Eles estão vindo te pegar!

E você terá suas bolas no muro, cara
Bolas no Muro
Você terá suas bolas no muro, cara
Bolas no Muro, Bolas no muro

Você pode confundir a mente deles
Você pode sacrificá-los também
Você pode deixa-los em carne viva
Você pode estuprar todos eles

Um dia os torturados se levantarão
E se revoltarão contra o mal
Eles te farão beber o próprio sangue
E te farão em pedaços

É melhor tomar cuidado com os condenados – Deus os abençoe
Eles vão quebrar as correntes
Não, você não pode detê-los  - Deus os Abençoe
Eles estão vindo para te pegar!

E você terá suas bolas no muro, cara
Bolas no Muro
Você terá suas bolas no muro, cara
Bolas no Muro, Bolas no muro

Vamos!

Ei cara, vamos nos erguer perante o mundo
Vamos enfiar uma bomba no cu de cada um
Se eles não nos deixarem viver
Nós vamos lutar pelos nossos direitos
Construa um muro com os corpos e você estará a salvo
Deixe o mundo apavorado
Vamos me mostre o sinal da vitória

E você terá suas bolas no muro, cara
Bolas no Muro
Você terá suas bolas no muro, cara
Bolas no Muro, Bolas no muro



Hoje farei um post totalmente contraditório com o raio x da semana passada, falarei da revoltada “Balls to the Walls” do Accept. A letra dessa música é daquelas que, de imediato, não toca no coração e nem faz refletir tanto – ela vai direto às entranhas e, se você se deixar levar, o sentimento de vingança e ódio se apodera imediatamente.

A música faz uma análise seca e amarga da sociedade: somos escravos. Apesar de a palavra ser forte, não chega a me surpreender este tipo de comparação. Levando essa análise para a época em que a música foi composta (1983), é importante lembrar que o muro de Berlim ainda estava de pé. O socialismo já estava em decadência e a geração que nasceu após a segunda guerra mundial já estava na casa dos 40 anos. Os motivos que dividiam a Alemanha em duas já não aparentavam tão legítimos. A diferença econômica entre essas duas Alemanhas já era gritante e clara, o muro de Berlim provavelmente foi a principal inspiração de Balls to the Walls.



Mas, pra mim, essa análise pode extrapolar a Guerra Fria e ainda pode ser aplicada a nossa realidade. Temos o nosso sentimento de liberdade, mas será que somos livres na prática? Já experimentou pensar em algum estilo de vida fora do padrão das “44 horas semanais”? Será que é realmente necessário que todos nós vivamos nossas vidas em função de nossa vida profissional? É difícil pensar em uma alternativa diferente dessas que não envolva diversos sacrifícios. Mas será que vale a pena gastar 26% de toda nossa semana? Atribuindo 1h diária para o transporte 1h para o almoço e 8h de sono, você tem para viver apenas um terço de sua semana, isso se você não faz nenhum tipo de curso.

Existem duas coisas que nos prendem nessa vida “padrão”. A primeira é a moral. Há a concepção de que o trabalho é necessário para a formação do caráter do indivíduo. Há uma ideia muito difundida de que não se pode ser “vagabundo”, e esse estigma é atribuído inclusive às pessoas que estudam e também às que trabalham de formas não convencionais (como free lancers, por exemplo). A segunda coisa é a valorização do consumo. Apesar de ser possível viver tranquilamente em um emprego que nos dê mais autonomia e tempo livre, há uma pressão para que tenhamos o máximo de produtos possíveis para que possamos nos encaixar nos padrões. Ter um carro, roupas de marca, frequentar lugares caros é muito mais importante para a sociedade do que ter tempo para aproveitar essas coisas.



Seja o opressor o capitalismo ou o socialismo, a música defende uma postura radical em favor da liberdade. A história da humanidade é preenchida por várias grandes civilizações em que poucos governavam e muitos obedeciam. Apesar dos avanços a lógica ainda permanece essa. É muito difícil destituir alguém do poder apenas com negociações, quanto mais toda uma classe. Os exemplos de verdadeiras mudanças de poder são sempre coloridos com muito sangue. Muitas vezes não percebemos que aqueles que estão no topo da sociedade morrem de medo do que os que não estão podem fazer. E, de acordo com a Balls to the Walls, eventualmente os “condenados” fazem alguma coisa.

Depois de um período de marasmo, estamos passando por uma época que as pessoas no mundo estão percebendo que algo precisa ser mudado. Os diversos movimentos que estão surgindo no mundo inspirados no “Ocupe Wall-Street” são uma demonstração que, pelo menos parte dos jovens, não vão mais aceitar o governo em favor dos 1% (que não são os motoqueiros do post anterior) e que os governos têm que dar um jeito de resolver a falta de renda que a crise de 2008 gerou. Que proporções esses movimentos vão tomar é difícil dizer, imagino que as coisas na Grécia ainda vão ficar muito feias, e é possível que jovens de países como Portugal e Espanha aprendam com o exemplo. Acho que a União Europeia está assinando seu atestado de óbito com a política de passar as dívidas contraídas para o povo. Enquanto eles não começarem a encontrar formas de produzir mais, a bola de neve das dívidas tende a crescer até que o povo tenha que tomar as rédeas da situação.


2 comentários:

  1. Você acha mesmo que as pessoas estão mudando e querendo fazer alguma coisa? Eu sei que há alguns movimentos, mas isso sempre existiu, só que sempre é uma meia duzia que tenta fazer alguma coisa.
    Mas a grande maioria continua sem fazer nada. Eu tenho minhas duvidas se as pessoas querem mesmo fazer alguma coisa para mudar o mundo....

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  2. Eu acho que a grande maioria nunca vai querer fazer nada porque é sempre mais confortável manter o presente do que se arriscar em um futuro incerto.

    Mas, como já dito no livro "1984" de George Orwell, a história das revoluções é sempre uma disputa entre a uma "classe média" e quem está no poder, ou seja, a disputa é sempre elitizada. Acho que, mesmo que a maioria não se mobilize, é possível que haja mudanças em um futuro próximo. Só que não posso garantir que vai ser para melhor ;)

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