sábado, 1 de outubro de 2011

Raio X: Paradise - Temos muito a perder


Tarde da noite de novo eu me encontro
Refletindo e assistindo TV
Eu não posso acreditar no que está na tela
Algo que eu não gostaria de ver

Muitas espécies raras vão perecer em breve
E nós teremos falta de comida
Por que temos que ser tão egoístas?
Nós temos que mudar nossa atitude.

Eu sei que eu não sou
O único que está preocupado
Por que todos nós não
Acordamos e percebemos?

Como as aves no céu
Nós estamos voando tão alto
Sem fazer nenhum tipo de sacrifício
Nós temos tão pouco tempo
Para desfazer este crime
Ou nós perderemos o nosso paraíso

Parece-me que não há nenhum sentido
Ninguém se importa é sempre o mesmo
Mãe natureza está chorando de dor
Nós somos os culpados

Eu sei que eu não sou
O único que está preocupado
Por que todos nós não
Acordamos e percebemos?

Como as aves no céu
Nós estamos voando tão alto
Sem fazer nenhum tipo de sacrifício
Nós temos tanto pouco tempo
Para desfazer este crime
Ou nós perderemos o nosso paraíso



Hoje vamos tratar um tema não tão discutido ainda por aqui: o meio ambiente. Talvez pelo fato de o heavy metal ser um estilo musical dos anos 80, onde a preocupação ambiental não era tão presente quanto hoje (ou quanto nos anos 60), ainda estranhamos músicas com essa temática. Mas a “Paradise” do Stratovarius vai direto ao ponto sem muitos rodeios.

Acho muito interessante que na primeira estrofe o eu lírico esteja vendo TV. Mostra que apesar de muitos serem alienados, ainda sim o problema ambiental é claro para todos. É mais do que falta de informação, é falta de interesse mesmo. Duvido que, nos dias de hoje, ainda possamos duvidar que haja conseqüências pesadas se a humanidade não repensar sua relação com os recursos naturais.

A música continua como uma lição de moral mesmo, não tem muito que falar, a gente tá fodendo com tudo a nossa volta e com a gente mesmo. Apesar de algumas pessoas alertarem, a grande maioria não quer saber e, enquanto a gente não estiver na miséria, ninguém parece que vai mudar de idéia.

Mas será que é isso mesmo? Passamos milhares de anos nos desenvolvendo como humanidade, criando novas formas de vivenciar o mundo, passamos por guerras, conquistas, governos, religiões, filosofias, culturas e tudo acabará por que a gente não presta atenção nas plantinhas e nos bichinhos? Bem, por mais ridículo que pareça, é possível.

Claro que não vou dar uma de alarmista e dizer que a humanidade é o bastião do apocalipse e que temos que “salvar o planeta”. Nem acho que se der tudo errado é o fim da própria humanidade. Já sobrevivemos a algumas eras glaciais e outras catástrofes climáticas e ainda nem tínhamos inventado o número zero ou a roda. Ver a questão do meio ambiente tratando a humanidade como uma ameaça para natureza é puro alarmismo, como George Carlin disse com maestria em um de seus shows:


Mas o fato de a natureza e a própria humanidade terem boas chances de continuar por algum tempo, isso não faz com que devamos ignorar o que estamos fazendo conosco. Eu não vou perder tempo vomitando dados de como nosso nível de consumo é totalmente insustentável, ainda mais com sete bilhões de pessoas no planeta. Dentro de nossos paradigmas do que é felicidade (consumo) e do número de pessoas que vivem a margem da sociedade, não é possível termos um mundo melhor para todos. Temos sorte da maioria destes sete bilhões pessoas não terem oportunidade de consumir o necessário para uma vida digna. Bem, elas é que não têm nem um pouco de sorte.

Não adianta pensarmos em pequenas coisas para resolver a catástrofe social que a eminente falta de recursos naturais vai causar. Se você começar a reciclar o seu lixo, parar de comer carne e alimentos transgênicos, trocar o carro pela bicicleta, adotar um cachorrinho abandonado, gastar menos energia e água; nada vai mudar. Algumas vezes somos tão arrogantes que acreditamos que mudando algo em nossa vida estamos ajudando a mudar o mundo. Lembre-se que você representa 1/7000000000 do problema. Tentar resolver algum problema mudando apenas a sua própria atitude não passa e uma piada sem graça.

Claro que isso não impede que você faça as coisas listadas acima, ou que não tenham outros bons motivos para fazê-los, como seguir os seus valores por exemplo. Mas é importante que fique claro que você não é melhor do que ninguém por isso, nem está ajudando tanto assim. Dentro do grande jogo da humanidade os jogadores que realmente tem fichas para fazer uma aposta que mude algo são os governos. Não adianta você viver como um eremita enquanto a china está aumentando a sua indústria vertiginosamente sem a menor preocupação com as conseqüências. Não adianta você parar de consumir transgênicos ou carne se o principal consumidor do que é produzido no Brasil é o mercado externo.

Pouco de nós têm realmente o poder de mudar algo, mas têm algumas coisinhas que podemos fazer para, pelo menos, não ficarmos no caminho de quem realmente tem alguma chance. O grande problema da falta de sustentabilidade de nossa sociedade é o excesso de consumo. A coisa fica complicada porque a nossa sociedade é baseada no próprio consumo. Claro que seria inútil resolver este problema também individualmente. É importante que possamos imaginar que há felicidade fora do “american way of life”. 



Há algumas frentes que me parecem relevantes para esse tipo de mudança. A mais óbvia é o aumento da eficiência dos processos que demandam recursos naturais. É importante que novas formas de gerar de energia e de matérias-primas sejam criadas e constantemente aperfeiçoadas para que causem um menor impacto. Outra frente a ser considerada é a educação. Não é possível imaginar que uma pessoa com pouca educação, ou uma educação enviesada, vá perceber as contradições do mundo atual. Não haverá mudança de paradigma se as pessoas não puderem entender o problema do paradigma atual. Mas a frente que talvez causasse maior impacto é a política. Quem hoje financia a maior parte dos partidos políticos são as grandes corporações. Os votos são conseguidos muitas vezes através de campanhas políticas enganosas. Enquanto a sociedade tratar a política como algo que não muda, nenhuma outra coisa vai mudar.

A principal mensagem de “Paradise” é que o problema é nosso e que nós precisamos acordar. O individualismo que permeia a nossa sociedade acaba criando a ilusão que somos suficientes em nós mesmos. Nada mudará se não tomarmos as rédeas do futuro, não podemos mais deixar que poucos decidam por todos nós.

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