Tarde da
noite de novo eu me encontro
Refletindo e
assistindo TV
Eu não posso
acreditar no que está na tela
Algo que eu
não gostaria de ver
Muitas
espécies raras vão perecer em breve
E nós
teremos falta de comida
Por que
temos que ser tão egoístas?
Nós temos
que mudar nossa atitude.
Eu sei que
eu não sou
O único que
está preocupado
Por que
todos nós não
Acordamos e
percebemos?
Como as aves
no céu
Nós estamos
voando tão alto
Sem fazer
nenhum tipo de sacrifício
Nós temos tão
pouco tempo
Para desfazer
este crime
Ou nós
perderemos o nosso paraíso
Parece-me
que não há nenhum sentido
Ninguém se
importa é sempre o mesmo
Mãe natureza
está chorando de dor
Nós somos os
culpados
Eu sei que
eu não sou
O único que
está preocupado
Por que
todos nós não
Acordamos e
percebemos?
Como as aves
no céu
Nós estamos
voando tão alto
Sem fazer
nenhum tipo de sacrifício
Nós temos
tanto pouco tempo
Para desfazer
este crime
Ou nós
perderemos o nosso paraíso
Hoje vamos tratar um tema não tão discutido ainda por aqui: o meio ambiente.
Talvez pelo fato de o heavy metal ser um estilo musical dos anos 80, onde a
preocupação ambiental não era tão presente quanto hoje (ou quanto nos anos 60),
ainda estranhamos músicas com essa temática. Mas a “Paradise” do Stratovarius
vai direto ao ponto sem muitos rodeios.
Acho muito interessante que na primeira estrofe o eu lírico esteja
vendo TV. Mostra que apesar de muitos serem alienados, ainda sim o problema ambiental
é claro para todos. É mais do que falta de informação, é falta de interesse
mesmo. Duvido que, nos dias de hoje, ainda possamos duvidar que haja conseqüências
pesadas se a humanidade não repensar sua relação com os recursos naturais.
A música continua como uma lição de moral mesmo, não tem muito que falar,
a gente tá fodendo com tudo a nossa volta e com a gente mesmo. Apesar de
algumas pessoas alertarem, a grande maioria não quer saber e, enquanto a gente
não estiver na miséria, ninguém parece que vai mudar de idéia.
Mas será que é isso mesmo? Passamos milhares de anos nos desenvolvendo
como humanidade, criando novas formas de vivenciar o mundo, passamos por
guerras, conquistas, governos, religiões, filosofias, culturas e tudo acabará
por que a gente não presta atenção nas plantinhas e nos bichinhos? Bem, por
mais ridículo que pareça, é possível.
Claro que não vou dar uma de alarmista e dizer que a humanidade é o
bastião do apocalipse e que temos que “salvar o planeta”. Nem acho que se der
tudo errado é o fim da própria humanidade. Já sobrevivemos a algumas eras
glaciais e outras catástrofes climáticas e ainda nem tínhamos inventado o
número zero ou a roda. Ver a questão do meio ambiente tratando a humanidade
como uma ameaça para natureza é puro alarmismo, como George Carlin disse com
maestria em um de seus shows:
Mas o fato de a natureza e a própria humanidade terem boas chances de
continuar por algum tempo, isso não faz com que devamos ignorar o que estamos
fazendo conosco. Eu não vou perder tempo vomitando dados de como nosso nível de
consumo é totalmente insustentável, ainda mais com sete bilhões de pessoas no
planeta. Dentro de nossos paradigmas do que é felicidade (consumo) e do número
de pessoas que vivem a margem da sociedade, não é possível termos um mundo
melhor para todos. Temos sorte da maioria destes sete bilhões pessoas não terem
oportunidade de consumir o necessário para uma vida digna. Bem, elas é que não
têm nem um pouco de sorte.
Não adianta pensarmos em pequenas coisas para resolver a catástrofe social
que a eminente falta de recursos naturais vai causar. Se você começar a
reciclar o seu lixo, parar de comer carne e alimentos transgênicos, trocar o
carro pela bicicleta, adotar um cachorrinho abandonado, gastar menos energia e
água; nada vai mudar. Algumas vezes somos tão arrogantes que acreditamos que mudando
algo em nossa vida estamos ajudando a mudar o mundo. Lembre-se que você representa
1/7000000000 do problema. Tentar resolver algum problema mudando apenas a sua
própria atitude não passa e uma piada sem graça.
Claro que isso não impede que você faça as coisas listadas acima, ou
que não tenham outros bons motivos para fazê-los, como seguir os seus valores
por exemplo. Mas é importante que fique claro que você não é melhor do que
ninguém por isso, nem está ajudando tanto assim. Dentro do grande jogo da humanidade
os jogadores que realmente tem fichas para fazer uma aposta que mude algo são
os governos. Não adianta você viver como um eremita enquanto a china está
aumentando a sua indústria vertiginosamente sem a menor preocupação com as conseqüências.
Não adianta você parar de consumir transgênicos ou carne se o principal
consumidor do que é produzido no Brasil é o mercado externo.
Pouco de nós têm realmente o poder de mudar algo, mas têm algumas
coisinhas que podemos fazer para, pelo menos, não ficarmos no caminho de quem
realmente tem alguma chance. O grande problema da falta de sustentabilidade de
nossa sociedade é o excesso de consumo. A coisa fica complicada porque a nossa
sociedade é baseada no próprio consumo. Claro que seria inútil resolver este
problema também individualmente. É importante que possamos imaginar que há
felicidade fora do “american way of life”.
Há algumas frentes que me parecem relevantes para esse tipo de mudança.
A mais óbvia é o aumento da eficiência dos processos que demandam recursos
naturais. É importante que novas formas de gerar de energia e de
matérias-primas sejam criadas e constantemente aperfeiçoadas para que causem um
menor impacto. Outra frente a ser considerada é a educação. Não é possível
imaginar que uma pessoa com pouca educação, ou uma educação enviesada, vá
perceber as contradições do mundo atual. Não haverá mudança de paradigma se as
pessoas não puderem entender o problema do paradigma atual. Mas a frente que
talvez causasse maior impacto é a política. Quem hoje financia a maior parte
dos partidos políticos são as grandes corporações. Os votos são conseguidos
muitas vezes através de campanhas políticas enganosas. Enquanto a sociedade
tratar a política como algo que não muda, nenhuma outra coisa vai mudar.
A principal mensagem de “Paradise” é que o problema é nosso e que nós
precisamos acordar. O individualismo que permeia a nossa sociedade acaba
criando a ilusão que somos suficientes em nós mesmos. Nada mudará se não tomarmos
as rédeas do futuro, não podemos mais deixar que poucos decidam por todos nós.
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