quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Raio X: Twilight of the Gods - O Paradoxo do Progresso (parte 2)

(Para ler a primeira parte deste raio-x clique aqui)

Graças ao progresso técnico-científico dos últimos séculos, a humanidade chegou a um patamar incrível. Hoje produzimos alimentos suficientes para alimentar a humanidade várias vezes, temos tecnologia suficiente para produzir bens necessários com muito pouca mão-de-obra. Sobra tanta gente que a maioria das pessoas no ocidente trabalha no setor de serviços, muitas vezes em cargos puramente burocráticos. Por que então todo esse alarmismo em Twilight of the Gods?

Não podemos fazer uma relação simples entre progresso e esclarecimento. Antes do século XVIII, a humanidade nem sonhava com o nível de conhecimento que temos hoje. Nem por isso podemos dizer que somos mais inteligentes, ou ainda, melhores que eles. Assim como na maior parte da história da humanidade, o conhecimento ainda é algo exclusivo para uma minoria. A diferença essencial é que: enquanto antes a maioria das pessoas não tinha acesso a educação e as mais diversas teorias de sua época, hoje, muitos de nós, têm a acesso a boa parte do conhecimento produzido pela humanidade e, ainda assim, a maioria de nós continua alienada dos diversos processos que regem a nossa existência. Essa contradição não é fácil de explicar.

Até o século XIX, discutia-se como poderíamos ser iguais se não havia recursos para todos, a partir do momento que conquistamos a tecnologia para produzir em uma escala suficiente para dar uma vida digna a todos, a discussão esvaziou-se. Durante o século XX os ideais igualitários foram sendo minados de forma precisa tanto pela ideologia americana quanto pela ideologia soviética. A queda do socialismo soviético só intensificou esse sentimento de que não devemos nos arriscar mudando o mundo.

São muitos os fatores que engessam a nossa sociedade, um dos principais, na minha opinião, está na cabeça das pessoas. Até Freud escrever sobre psicanálise, achávamos que controlávamos nossas escolhas. Hoje sabemos que o nosso subconsciente e o nosso inconsciente têm um poder grande sobre nossas ações. Acredito que nos acostumamos tanto com o nosso próprio modo de vida que temos medo de mudança. Para termos um mundo sem desigualdades, precisaríamos abrir mão de muitas coisas.

Acho que a nossa sociedade se baseia fortemente no consumo, muitas vezes a vida de uma pessoa se apoia basicamente nele. Tudo hoje em dia é consumível, não há mais incentivo para a produção fora da esfera de massa. Mesmo quando o Helloween faz suas músicas criticando a sociedade vigente, o formato que essa música chega para os fãs e que a banda se sustenta a partir da música é voltado para o consumo. O consumo foi importantíssimo para manter o capitalismo durante todas as suas crises, é ele que justifica alguém trabalhar muitas horas por muito pouco, mesmo já tendo como garantir as necessidades. É o consumismo que faz com que as classes mais baixas também tenham algo a perder. 

É essa valorização do consumo que nos faz, tanto ricos como pobres, desdenhar do conhecimento. Não estamos preocupados com política, ciência, religião e filosofia, o que queremos saber é quando vamos ter dinheiro suficiente para comprar um carro, quanto foi o jogo do Corinthians ou quem vai ficar com quem na novela. Claro que isso varia de intensidade para cada individuo, mas poucos de nós aceitaríamos viver em um mundo onde a prioridade é o conjunto e não o nosso bem-estar.



Esse desdém por questões fundamentais do conhecimento é o que tira do progresso o seu potencial esclarecedor. Hoje a ciência tem explicações minuciosas sobre o funcionamento da natureza, mas quem se importa? Quem é que está por dentro das teorias políticas para avaliar em quem votar (ou se deve votar)? É esse vazio de interesse da maior parte da população que faz com que a tecnologia possa ser usada das formas mais perversas possíveis, só assim que alguém consegue usar como justificativa a ciência para assassinar milhões de pessoas. 

É isso que a Twilight of the Gods nos alerta, o progresso é perigoso. Se a sociedade não for capaz de julgar o que é bom para ela, se não se interessar pelo que acontece nos âmbitos de poder, se apenas aceitar as coisas como entregam pra ela, ficaremos a mercê de nossas próprias criações, dependentes dela. Talvez já estejamos.

Aliás, o Corinthians joga hoje né? Vai Timão!!

Nenhum comentário:

Postar um comentário