quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Raio X: Twilight of the Gods - Cuidado com os deuses da modernidade (parte 1)



Insania 2014

Jogamos fora nossos antigos deuses
Controlando nosso dia
Criamos deuses melhores
Agora nós que controlamos

Somos aqueles com o poder
Para subjugar nosso inimigo
Nossos deuses são a perfeição
E eles estão protegendo nossas vidas
Nós ainda precisamos de mais alguns deles
Para estar protegido contra o outro lado
Enquanto nós formos mais fortes
Nada irá acontecer conosco

Um flash de fogo na noite
Apenas um pesadelo
Guerra santa no céu... Nunca

Insania 2016

Erro no depósito 103
Nós vimos o sol durante a noite
Os belos deuses que nós mesmos criamos
Agora exterminam nossas vidas

Vozes vindas de cérebros de silicone,
Estão gritando “ataque” esta noite
Nossos deuses estão agora lutando
em fúria, queimando o nosso mundo
O dia final chegou
E não há lugar para se esconder
O futuro acabou
E não há mais volta

Flash de fogo na noite
Agora é realidade
Guerra santa no céu...

O Crepúsculo dos deuses
Insania está morta e enterrada
Um novo mundo nasceu
Mas o crepúsculo logo chegará!



Hoje falarei de "Twilight of the Gods" do Helloween, mais um clássico do heavy metal. O Helloween foi uma das primeiras bandas de metal na Alemanha e é pioneiro no metal melódico. A Twilight of the Gods está no CD de estreia de Michael Kiske nos vocais da banda, uma lenda no estilo. Além de todos esses fatores, a TOTG é uma ótima música, se você gosta de músicas rápidas e melódicas, ela é um prato cheio.

Mas o que falar da letra? É genial! A TOTG foi lançada em 1987, o muro de Berlim ainda não tinha caído, era o fim da guerra fria. O sentimento de que o mundo poderia ser destruído em uma guerra nuclear ainda não tinha se dissipado por completo. Seria compreensível criticar a guerra fria em si, mas ao invés disso, Kai Hansen foi mais longe e criticou a humanidade.

A música narra eventos que ocorrem em um país fictício no futuro chamado convenientemente de “Insania”. É importante perceber que esses “deuses” citados na música são uma metáfora para o nosso modo de vida, coisas como progresso tecnológico, cultura e tradição. A ideia de que trocamos os nossos deuses antigos por deuses novos e melhores é uma forma de ironizar a prepotência da humanidade que passou a acreditar, com o avanço da ciência, que poderia finalmente controlar a natureza.

Já na segunda estrofe da música, é possível perceber os efeitos colaterais dessa mudança de perspectiva em relação à natureza e à tradição. A partir do momento em que o povo de Insania cria seus novos deuses, eles se tornam dependente deles. A percepção de que “Nós ainda precisamos de mais alguns deles para estar protegido contra o outro lado / Enquanto nós formos mais fortes, nada irá acontecer conosco” deixa isso bem claro. Outra sacada legal, é que esse “outro lado” nem aparece mais no resto da música, a ideia é mostrar a paranoia da guerra fria, onde tanto os americanos quanto os soviéticos se armavam freneticamente, até um ponto que poderiam destruir a Terra várias vezes.



Passado dois anos desde a parte inicial da narrativa, a coisa começa a desmoronar. Tudo aquilo que as pessoas de Insania acreditaram que garantiria a sua segurança, se voltou contra os próprios “insanianos” e agora não há mais nada o que fazer, esses “deuses” eram tudo que eles tinham. Pensando na metáfora, a partir do momento que a humanidade se apoia no progresso, a esperança é depositada sempre no futuro, quando esse futuro não se confirma, não temos mais nada para nos sustentar.

A ideia básica é que a racionalidade só é benéfica ao lado da emoção (sensibilidade). A racionalidade é muito útil para nos explicar como fazer as coisas, mas quando ela começa a nos dizer o que fazer, ficamos dependentes de nossas próprias criações. A partir do momento que uma sociedade é guiada por estudos puramente objetivos e governada por técnicos burocratas sem opinião, ela abdica de sua própria liberdade de escolha.

Na segunda parte (clique aqui) deste raio-X, vou explorar um pouco mais os problemas da super valorização do progresso e dar a minha opinião sobre isso tudo. Neste meio tempo, não deixe de votar na enquete do blog!

4 comentários:

  1. Helloween é minha banda preferida então sou suspeita pra falar, mas esse post foi o melhor até agora! Falta pouco pra eu começar a citar as letras do Helloeen nos meus artigos acadêmicos, rs... letra maravilhosa e um ótimo post!

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  2. O mais interessante, e aí é puxando sardinha pro meu lado obviamente e por mais que muitos desdenhem da profissão do historiador por acreditem ser uma carreira falida, a história ainda é utilizada como base para muitas coisas. Por que digo isso? Porque como todos sabemos, atualmente não temos no cenário mundial uma grande guerra, e muito menos momentos de tensão provenientes de alguma que seja em âmbito mundial. No entanto, percebemos a alusão feita na música de um contexto histórico que poderia até ser contemporâneo ao compositor, porém passado uns 20 anos ainda atrai a atenção dos demais. Em outras palavras, viva a história como auxiliadora de grandes trabalhos!

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  3. Bacana seu blog.
    Continue com o bom trabalho.

    Adoro essa música, mas nunca tinha parado pra refletir sobre ela. Foda.

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  4. muito bom o blog, não conhecia, irado

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