sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Raio X: Take no Prisioners - Calmaria antes da tempestade? (parte 2)

Este post é a continuação deste aqui. Não estranhe a falta de conexão com o heavy metal e até com a música, pois a parte “filosofia”, de vez em quando, vai falar um pouco mais alto. Não vejam isso como um problema, afinal, a arte inspira a reflexão.

A guerra é uma das maiores expressões da cultura humana, muitas das mudanças tecnológicas que contribuem para o nosso dia-a-dia foram motivadas por disputas bélicas. Algumas religiões e mitologias elevam a guerra a um patamar transcendental, como o conceito do Jihad islâmico, a ideia da Valhalla nórdica e até mesmo as Cruzadas cristãs. Muitos mitos nacionais têm como herói fundador um grande guerreiro que lutou bravamente pela libertação de seu povo, Moisés e Willian Wallace são ótimos exemplos. Mas, afinal, qual seria o papel da guerra hoje?

O século XX talvez tenha sido o século mais violento da história humana, só as duas grandes guerras mataram mais de 90 milhões de pessoas entre soldados e civis. Isso sem contar as várias lutas de independência nas colônias européias, os conflitos motivados pela guerra fria e várias outras guerras localizadas. Neste mesmo século fomos apresentados à “masterpiece” entre as armas de destruição em massa: a bomba atômica.



Agora nos encontramos no século seguinte e a guerra parece cada vez mais distante da nossa realidade. Após a guerra fria, o único grande susto que passamos foram os ataques terroristas do 11 de setembro, mas que, no final das contas, apenas serviu como justificativa para ações militares ocidentais em ex-colônias não-alinhadas. Uma “Terceira Guerra Mundial” é apenas motivo de inspiração para obras de ficção, o risco de uma hecatombe nuclear parece superado.

Claro que a guerra ainda ocorre em alguns pontos isolados, vemos lutas armadas pela democratização de algumas repúblicas e monarquias árabes. Israel e a Palestina continuam sendo motivo para matar e para morrer, os EUA não conseguem desocupar completamente os países dos quais eles mesmos “libertaram” e a África ainda parece estar longe de superar suas diferenças étnicas. Mas será que esse panorama vai durar por muito tempo?

Na parte 1 deste "raio x" os efeitos negativos da guerra foram muito bem explorados e eu, particularmente, não acho que valha a pena arriscar a própria vida por um ideal. Apesar da glamourização da guerra proporcionada pela cultura pop, inclusive pelo próprio heavy metal, ainda temos a clara ideia do ônus de um conflito armado. Mas há fantasmas a assombrar nossos planos de futuro pacífico.

Um dos fatores que justificaria novos conflitos armados é o fanatismo religioso. O oriente médio com seus problemas sociais e o seu destaque na economia mundial é um terreno fértil para que discursos belicosos baseados em crenças se disseminem. O mesmo fanatismo que faz um mulçumano jogar um avião em um prédio, faz também com que um judeu assassine seu próprio primeiro-ministro por negociar a paz com o inimigo. Essa história toda ainda pode ter novos episódios, caso o modelo teocrático do Irã seja adotado por países árabes que atualmente lutam contra seus regimes ditatoriais. Talvez isso não se espalhe pelo resto do mundo, mas a Al Qaeda já mostrou que o alcance do problema não se restringe apenas ao oriente médio.



Outro fator um pouco mais incipiente (que pode muito bem ser viagem da minha cabeça) é a crise econômica que o mundo vem sofrendo com a aparente falência dos modelos atuais, principalmente o europeu. É possível que, aos poucos, a Europa, o Japão e até os EUA percam sua posição de líderes mundiais para um sistema mais fragmentado de mercado. A discussão polarizada entre social-democracia e neoliberalismo parece fornecer cada vez menos respostas palpáveis para resolver o problema da recessão no primeiro mundo. Esse cenário já vem mostrando alguns sintomas no campo da violência. Protestos acalorados contra medidas impopulares de governos que cortam gastos sociais para evitar que o país quebre são cada vez mais comuns e intensos. Partidos de extrema direita agregam cada vez mais adeptos, disseminando a crença de que a culpa do desemprego é do imigrante que não “merece” ser tratado como igual. Os atentados ocorridos na Noruega talvez não sejam um caso isolado. Esse cenário lembra, ainda que vagamente, o mundo após a crise de 29.

Há ainda outros fatores não tão óbvios como a possível falta de recursos naturais a médio prazo e as rixas mal resolvidas entre a china e alguns de seus vizinhos. No século XIX, após a era napoleônica, também houve uma sensação de paz contínua na Europa que não se confirmou. Será que conseguiremos passar o século XXI sem jogar uma bomba atômica em alguém? Isso só o tempo dirá.

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