quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Férias!!



Como o próprio título indica o blog entrará em um curto período de férias. Essa  não é a época do ano pra ficar na frente do computador lendo textos sem pé e nem cabeça! Além disso, ano que vem, eu poderei me dedicar muito mais ao blog do que posso me dedicar agora, e não gostaria de perder a qualidade apenas para manter as postagens em dia.

Para aqueles que sentirão falta, eu duvido que já tenham lido os 51 posts, que já tenham ouvido os CDs e as músicas indicadas. Essa é a hora!

Continuarei postando eventalmente no Twitter e no Facebook. Parem de ser estrelinhas! Me sigam e curtam a página do FB!

É isso aí! Até janeiro!


terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Universo Headbanger: A Feminina e Mística Cultura Celta


Atenção: Este post é melhor apreciado ao som de Tuatha de Danann e Mago de Oz

No post de hoje falarei um pouco da cultura celta e de sua influência no heavy metal. Os celtas foram uma grande civilização que dominou boa parte da Europa ocidental e, assim como os nórdicos, nunca foram totalmente dominados. Aliás, pela forte identificação do povo irlandês e de alguns outros com os celtas, é possível dizer que estão aí até hoje, de certa forma.



Não dá pra falar do imaginário celta apenas como uma mitologia, nem valeria a pena tratá-lo como uma religião e cair no “esoterismo salada” dos nossos dias. Neste post tentarei mostrar que essa força da imagem céltica está em seu simbolismo como inspiração de resistência. Seja na busca de uma volta a um passado lúdico antes do domínio da razão em que o homem se fundia com a natureza, ou na busca de uma espiritualidade fora da lógica monoteísta, patriarcal e dogmática; a cultura celta se mostra como um fenômeno interessante de resgate de uma identidade européia.

Quando falamos dos celtas, estamos nos referindo a um conjunto bem heterogêneo de tribos que engloba os Gauleses, os Galegos, os Belgas e os Bretões, entre outros. É essa abrangência da cultura celta que traz todo esse simbolismo de “volta às origens”. É a ideia de celta que liga a história dos eternos rivais França e Inglaterra. É a própria identidade Celta que dá o nome ao País de Gales, ou que reforçou a resistência católica na Irlanda. Os grupos que se consideram celtas já defendiam a idéia de uma Europa unida antes mesmo da consolidação da União Europeia.

Bem, antes, vou resumir um pouco da mitologia celta em si. Como já dito, os celtas são um grupo heterogêneo e sua mitologia também não é diferente. Os celtas eram politeístas. A lista de divindades é grande e confusa. O conjunto do panteão irlandês é o bem conhecido dos headbangers aqui no Brasil: o “Tuatha dé Danann”, que pode ser traduzido como povo de Danú, ou nação de Danú. Danú seria (numa das versões) a deusa mais poderosa do panteão. Ela é a mãe terra, a deusa da vida e também da morte. Outro deus famoso é o Cernuno, que talvez fosse o marido ou então o filho da própria Danú. Mas essa é só uma versão dele, “Cernuno” é o nome dado a todas as representações celtas de um deus chifrudo.



Outro elemento bastante associado à mitologia celta são as fadas e os duendes. No caso das fadas, provavelmente elas são a versão “politicamente correta” de se tratar deuses pagãos na Europa cristã (outra forma era considerar como demônios mesmo), um povo acostumado a venerar os espíritos da floresta, não vai parar de um dia para o outro (muitos continuam até hoje). Já os Duendes, ao contrário do que eu imaginava, são a galera “do mal” do folclore celta. Eles são os espíritos que fazem as maldades inexplicáveis, tipo uma versão verde do saci pererê, eu acho.

Só que mais importante do que os seres sobrenaturais que eles acreditavam, é a estrutura da sociedade. Os Celtas talvez tenham sido a única civilização matriarcal. Existiram várias outras sociedades matriarcais, mas nenhuma chegou ao status de civilização (se é que os próprios celtas chegaram). Nós vivemos em uma sociedade patriarcal. Ela é baseada na razão, na hierarquia e na força, enquanto a sociedade matriarcal seria baseada no místico, na igualdade e na sexualidade. Os valores matriarcais são muito presentes nas reivindicações de nossa época: A equiparação (não igualdade) entre homens e mulheres, a igualdade de tratamento entre as pessoas e uma proximidade maior com a natureza. Esses valores celtas são bem contemporâneos afinal.

Outra coisa interessante sobre a cultura celta é o druidismo. Os Druidas eram os sacerdotes celtas, principalmente na região da Grã-Bretanha. Fontes Greco-Romanas atribuem a eles práticas de sacrifício humano. Uma ótima interpretação do druidismo está na série “Crônicas de Artur” do inglês Bernard Cornwell. Nestes livros, os druidas (entre eles o próprio Merlin) são o pilar da religião pagã, eles detêm todo conhecimento místico e frequentemente seus poderes são solicitados, inclusive em batalhas. Muito parecido com a ideia dos magos de fantasia, ou mesmo dos bruxos e bruxas das lendas.



Todos esses elementos culturais se mantiveram pelos séculos, principalmente devido às histórias do ciclo arturiano, cujo personagem principal é o fundador mitológico da Inglaterra e cuja história é referência de heroísmo até hoje. Tanto a história do rei Artur quanto a história de Tristão e Isolda têm interpretações ótimas feitas pelo Blind Guardian, vale muito a pena ouvir “A Past and Future Secret“ e “The Maiden And the Minstrel Knight”.

Toda essa idéia de valorização do místico e de volta às origens que vem com o ressurgimento da cultura celta acaba sendo uma forma de protesto à sociedade racionalizada e mecanizada em que vivemos. A razão e, principalmente, a ciência foram sempre grandes promessas de uma humanidade livre e justa. Porém o século XX foi uma grande demonstração da própria irracionalidade que a nossa sociedade estava imersa. No fim das contas, o progresso técnico foi mais útil para criar armas do que para criar soluções.

Claro que essa é uma visão muito parcial (e que eu particularmente tenho minhas ressalvas), porém esse sentimento de busca de um natural místico, de unidade com a natureza e com os nossos instintos, faz com que a apropriação de elementos antigos de uma cultura muito diferente ganhe força. Isso não poderia ser diferente no Heavy Metal.



No Geral, o heavy metal carrega uma forte característica patriarcal; afinal, não é à toa que a grande maioria dos músicos são homens. A Razão e, principalmente, a Força são elementos muito valorizados no estilo como um todo. Porém, há um elemento que ajudou a fundar o Heavy Metal que está muito presente na cultura celta: o misticismo.

O que encanta nas narrativas celtas é a forte presença do sobrenatural. No mundo celta, tudo é vivo. Além disso, a grande heterogeneidade das suas crenças traz certa possibilidade de criação. A própria história do Rei Artur foi contada de diversas formas e assim continuará, pois sempre haverá espaço para novas interpretações do mitológico rei da Bretanha. Esses elementos de criação não seriam ignorados pelo heavy metal tão facilmente.

Mesmo a mitologia celta agregando valores não convencionais ao metal, o principal valor das duas visões de mundo é compartilhado: a liberdade. É inclusive essa liberdade do heavy metal que faz com que um estilo tão marcado por instrumentos potentes e graves se incorporasse a flauta. É essa liberdade que a idéia do renascimento celta traz: A liberdade da subjetividade, de amar antes de entender, de se preocupar com os mais fracos, com os que não têm voz. O toque celta, mesmo que sentimental demais para a dureza do heavy metal, é a comprovação de que o metal é um estilo crítico acima de tudo.


domingo, 4 de dezembro de 2011

Review: The Great Execution - A sexta grande extinção está para chegar.


Quando o heavy metal começou, a sua principal marca era o místico, o obscuro, o terror. Com o tempo, o estilo foi se expandido e várias temáticas se tornaram tão comuns quanto o clássico terror. Porém não é fácil tirar uma identidade tão forte quanto o culto ao medo presente no início do heavy metal. Claro que, com o passar do tempo, as pessoas vão se acostumando com a linguagem do heavy metal e o terror das músicas do Black Sabbath já não são grande coisa (mas musicalmente continuam ótimas). Enquanto algumas bandas adotaram uma linguagem do medo mais light apenas como um aperitivo, outras bandas mais extremas criaram e recriaram novas linguagens para passar esse sentimento. Um ótimo exemplo para ilustrar o que eu estou falando é o CD novo do Krisiun, o “The Great Execution”.



As letras deste CD são muito bem escritas e totalmente incorretas, no bom sentido! Uma das melhores interpretações de uma arena de gladiadores que já ouvi está na faixa Violentia Gladiatore: “Corpos empalados em lanças de ferro, espetáculos de horror / A platéia da arena celebrando as bestas com um massivo rugido”. Isso é light ainda comparado com este trecho da Blood of Lions: “Aqui eu venho na velocidade de um som de assassinato / Cavalgando rápido nas asas de uma guerra infernal / No meu mundo apenas o mal glorifica, os caminhos do caos para purificar”. Tudo isso em meio de riffs muito bem elaborados e linhas de vocal muito bem feitas.

Em meio a essa linguagem extrema há uma forte crítica a humanidade, e o bode expiatório é, como de praxe, o cristianismo. As críticas seguem a linha parecida com as de Nietzsche; como, por exemplo, em um trecho da música que leva o nome do álbum: “Morto é o chamado salvador / A peste de cristo, eterna mentira universal / Colhendo rezas quebradas / Nos campos de engano, decadência e tristeza”. A fraqueza da humildade e a mentira da vida após a morte são outras críticas ao cristianismo presentes no álbum. Além de criticar a religiosidade da humanidade, critica também sua hipocresia e autodestruição, como no trecho da Extinção em Massa: “Atitude extrema / Falha no esquema / Queda no sistema / inverno nuclear / Morte por ganância / O fim por ignorância / A maquina não para / Não para de matar”



O death metal misturado com elementos de thrash metal forma uma das melhores misturas de estilos de metal. Krisiun o faz nesse CD de forma primorosa. As músicas que mais gostei foram a “The Great Execution” e a “Violentia Glatiatore”, mas o CD todo é ótimo. Apesar de não muito aconselhável para pessoas muito religiosas, ou pudicas, o The Great Execution é um dos CDs nacionais que não podem passar em branco na sua playlist.